Um hospital de Xangai disse à sua equipe para se preparar para uma “batalha trágica” contra a covid-19, prevendo que metade dos 25 milhões de habitantes da cidade seja infectada até o final da próxima semana, conforme o vírus avança na China.
Após protestos generalizados contra medidas rígidas de restrição, a China começou este mês a desmantelar a política covid zero, que causou um forte impacto financeiro e psicológico em seus 1,4 bilhão de habitantes.
A contagem oficial de mortes na China por covid-19, desde o início da pandemia, três anos atrás, é de 5.241 – uma fração do que a maioria dos outros países enfrentou –, mas agora deve aumentar acentuadamente.
A China não registrou novas mortes pelo segundo dia consecutivo nesta quarta-feira (22), mesmo com funcionários de funerárias dizendo que a demanda por seus serviços aumentou muito na última semana.
As autoridades, que restringiram os critérios para enquadrar mortes por covid-19, provocando críticas de muitos especialistas em doenças, confirmaram 389.306 casos com sintomas.
Alguns especialistas dizem que os números oficiais de casos se tornaram um guia não confiável, pois menos testes estão sendo feitos, após o relaxamento das restrições.
É provável que o número de infecções na China seja de mais de 1 milhão por dia, com mortes em mais de 5 mil por dia, um “grande contraste” com os dados oficiais, afirmou nesta semana a empresa britânica de dados de saúde Airfinity.
A Airfinity disse que examinou dados das províncias regionais da China, observando que os casos estão aumentando mais rapidamente na capital Pequim e na província de Guangdong, no Sul do país.
O Shanghai Deji Hospital, em postagem em sua conta WeChat na noite de quarta-feira, estimou que havia cerca de 5,43 milhões de casos positivos na cidade e que 12,5 milhões de pessoas serão infectadas no principal centro comercial da China, até o final do ano.
“A véspera de Natal, o Ano Novo e o Ano Novo Lunar deste ano estão destinados a ser inseguros”, disse o hospital particular, que emprega cerca de 400 funcionários.
“Nesta batalha trágica, toda a Grande Xangai cairá, e infectaremos todos os funcionários do hospital! Vamos infectar toda a família! Todos os nossos pacientes serão infectados! Não temos escolha e não podemos escapar.”
A postagem não estava mais disponível no WeChat na tarde de hoje. Uma pessoa que atendeu a linha telefônica do hospital informou que não poderia comentar imediatamente a publicação.
Os moradores de Xangai enfrentaram um lockdown de dois meses que terminou em 1º de junho, com muitos perdendo renda e em dificuldades para atender necessidades básicas. Centenas morreram e centenas de milhares foram infectados durante esses dois meses.
Nesta quinta-feira, muitas áreas de Xangai estavam quase tão desertas quanto na época, com muitos moradores se isolando e empresas forçadas a fechar porque os funcionários adoeceram.
“Todos os nossos funcionários estão doentes”, disse um funcionário de supermercado, enquanto fechava as portas. Ele afirmou que espera reabrir em 30 de dezembro.
Fonte: Zoey Zhang e Bernard Orr – repórteres da Reuters – Xangai
