Os desafios com a armazenagem de grãos no Brasil crescem a cada ano. Rico na produção, com quase 90 milhões de toneladas previstas entre soja e milho na safra 2022/23, Mato Grosso convive com um gargalo que preocupa produtores e entidades do setor. A falta de logística e de armazenamento.
A questão da armazenagem de grãos foi destaque durante o Fórum Mais Milho desta segunda-feira (19), em Cuiabá. O evento faz parte da programação do projeto Mais Milho.
Foto: Pedro Silvestre/ Canal Rural Mato Grosso
Segundo especialistas, o Brasil desperdiça em torno de 36 milhões de toneladas de grãos em 12 meses diante da falta de uma boa armazenagem.
“Um dos grandes problemas no Brasil é que a nossa armazenagem está mal distribuída. Não só em questão de regiões mas no local dos silos que estão em áreas urbanas ou industriais e muito pouco dentro das fazendas que é o local mais adequado. Apenas 15% está nas fazendas. Os outros 85% estão nas áreas urbanas”, frisa o presidente da Maizall, Paulo Bertolini.
Excesso de burocracia desacelera políticas agrícolas
Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, é preciso desburocratizar, pulverizar e entender que o problema na falta de armazenagem está relacionado com a segurança alimentar, com o Brasil e também, governamental.
“Mato Grosso tem 45% da capacidade estática, isso é gravíssimo e uma grande parte disso não está nas propriedades rurais. Infelizmente é difícil acreditar e entender, mas a política de armazenamento brasileira foi feita para que o produtor não tivesse armazém e isso nós precisamos mudar”, pontua.
O momento de desafios quanto aos preços da cadeia de produção diminuiu, atrelado a falta de armazéns no campo influência na precificação dos grandes players. O deputado federal de Mato Grosso e coordenador da Frente Parlamentar da Agropecuária de Mato Grosso (FPA-MT), Fábio Garcia, afirma que essa é uma pauta de extrema relevância.
“O governo precisa encarar essa realidade do setor e tratar isso de forma estratégica. Nesse sentido é preciso atuar em duas frentes importantes: disponibilidade de recurso com um plano safra bastante robusto e de uma linha de crédito boa, o segundo é trabalhar em cima de exigências para que o acesso às linhas seja mais democrático”, explica Garcia.
Cenário provisiona uma demanda maior de subsídio
O Plano Safra 2023/24 deverá ser anunciado na última semana de junho. A opinião dos representantes do setor do agronegócio, é que as restrições diante de um plano safra robusto acaba sendo uma desculpa para atender o que o caixa geral tem de disponibilidade.
Bertolini comentou que o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), tem um limite de prazo de financiamento de 12 anos e dentro deles, existem três anos de carência. “Para o cálculo de quanto vai ser o subsídio e quanto isso vai ser aplicado, o governo considera 100% dos financiamentos no prazo máximo”, explica.
“Não precisa ser um mega armazenamento, se o produtor planta 100, 200 hectares começa com um barracão. Então o primeiro ponto é o governo entender como um problema e o produtor começar a olhar como alguém que tem ideia para o armazenamento, mudar a mentalidade”, finaliza o presidente da Aprosoja-MT.
Para Cadore, é preciso pensar no armazenamento quando for fazer o investimento.