(FOLHAPRESS) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta segunda (12) que os juros futuros no Brasil têm tido queda relevante, abrindo espaço para um corte da Selic, a taxa básica de juros, sem especificar quando a redução poderia ocorrer.
Atualmente, a taxa Selic está em 13,75% ao ano.
O presidente da instituição também aproveitou para afagar o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao dizer que a equipe econômica tem trabalhado para criar um cenário que permita a queda dos juros, inclusive com a aprovação do arcabouço.
“Acho que o ministro Haddad tem feito um grande esforço, às vezes contra um movimento grande do próprio governo. A gente reconhece isso sempre, desde o começo, com a reoneração [de combustíveis]. Lembrando sempre que o ano de eleição foi muito ruim, foi meio que um campeonato de promessas em que no fim das contas teve um efeito fiscal.”
Campos Neto participou de um evento do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo), que contou com a participação de líderes de empresas como Magazine Luiza, Zara, Raia Drogasil e Arcos Dourados (franquia do McDonald’s).
“A gente deve ter um número de inflação em junho negativo e depois vai subir lentamente, [fechando em] 4,5% de inflação no ano.”
O presidente do BC também destacou que um dos efeitos da pandemia foi o aumento na quantidade de horas trabalhadas e de parte do capital investido, mas a produção industrial está parada, o que caracteriza perda de produtividade.
“Nas condições de crescimento, o que a gente vê são sinais não muito bons. O que a gente viu é que tem uma percepção de que a taxa de juro real neutra subiu. Por outro lado, uma das perguntas é o crescimento estrutural que o Brasil tem, esse número caiu.”
“Subimos juros parecidos com o que subiram os nossos pares, hoje o juro real brasileiro comparado com a média é menos alto do que a média histórica, a gente precisa ter um pouco de paciência, a gente tem de entender que a nossa tarefa é fazer a inflação convergir.”
Campos Neto também afirmou que o trabalho para manter a inflação sob controle está sendo feito e que as perspectivas mais otimistas para o crescimento do país ajudam.
“Tem um cenário de crescimento sendo revisado para cima, com a inflação sendo revisada para baixo. Sou um voto [no Copom, Comitê de Política Monetária do BC], não posso adiantar nada, mas a gente tem de fazer as coisas com paciência e parcimônia, se for interrompido no meio tem um custo muito maior.”
Após forte recuo na sessão anterior, as taxas dos contratos futuros de juros fecharam nesta segunda em nova baixa na ponta curta, em meio à expectativa de início do ciclo de cortes da Selic, enquanto a ponta longa apresentou elevação, na esteira do avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior.
Analistas também reduziram suas expectativas para a inflação de 2023 a 2026 na pesquisa Focus, na esteira de uma desaceleração mais forte do que o esperado no aumento dos preços ao consumidor em maio.
O levantamento divulgado nesta segunda pelo Banco Central mostra que as projeções para a alta do IPCA (a inflação oficial, medida pelo IBGE) são agora de 5,42% em 2023, 4,04% em 2024, 3,90% em 2025 e 3,88% em 2026.
Na semana anterior, essas contas estavam em 5,69%, 4,12%, 4,00% e 4,00%, respectivamente.
Para a Selic, os analistas continuam vendo os juros básicos em 12,5% no fim deste ano, em 10% no fim de 2024 e em 9% no fim de 2025. Para 2026, a perspectiva foi reduzida de 9% para 8,75%.
“Vamos ter um pouco de paciência, as coisas estão indo no caminho certo. É um processo lento, demora, tudo o que o BC faz hoje não tem efeito imediato. A expectativa tem um efeito forte e ela está indo na direção correta.”
Agentes do mercado têm reduzido prêmios embutidos na curva a termo brasileira, na esteira dos dados mais recentes de inflação e do otimismo em torno do andamento do novo arcabouço fiscal no Congresso.