Quem compra carro zero no Brasil

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A Nova Realidade do Mercado de Carros Zero-Quilômetro no Brasil

O mercado de carros zero-quilômetro no Brasil está passando por uma transformação significativa, impulsionada pelos preços elevados que têm alterado o perfil dos consumidores. A classe média, que costumava ser uma grande compradora de veículos, atualmente está reduzindo suas aquisições. No entanto, mais de 2 milhões de automóveis e comerciais leves estão previstos para serem vendidos até o final de 2023. Diante desse cenário, surge a questão: quem são, afinal, os clientes em potencial dos carros zero-quilômetro?

Em primeiro lugar, é importante mencionar que 25% desses veículos são adquiridos por locadoras. Quanto aos demais compradores, diversos fatores devem ser considerados. Até setembro de 2023, dados da Anef (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras) indicam que 55% dos automóveis e comerciais leves vendidos foram pagos à vista, revelando que uma parcela substancial do público tem recursos disponíveis para realizar a compra.

No entanto, é crucial ressaltar que essa tendência não reflete uma ampla disponibilidade financeira da população, mas sim a capacidade financeira de uma fatia mais abastada da sociedade. Um dos principais fatores que contribuem para essa realidade é a taxa de juros elevada, tornando a compra a prazo menos acessível para muitos consumidores. De acordo com Milad Kalume, diretor da Jato Informações Automotivas, “O tíquete médio dos carros novos vendidos no país subiu de R$ 70.877, em 2017, para R$ 140.150 em 2023”.

Essa substancial elevação revela que o mercado de carros zero-quilômetro está atualmente predominantemente nas mãos da classe média alta e dos mais abastados. Um fenômeno interessante é que, mesmo dentro da classe média alta, observa-se um movimento de “downgrade”, com consumidores optando por modelos mais simples do que anteriormente.

O consultor automotivo Cássio Pagliarini destaca que a crise e o aumento dos preços dos veículos impactaram as camadas inferiores do mercado, afirmando que “quando você percebe um Kwid e um Mobi custando entre R$ 65 mil e R$ 70 mil, muitas pessoas olham para o carro usado. Você consegue comprar um carro muito mais equipado com três anos de uso ainda na garantia, muitos deles, por esse preço. Então, a compra do carro usado substituiu a dos carros de entrada.”

Pagliarini ressalta que, para veículos mais caros, as pessoas são menos sensíveis do que a classe média de menor poder aquisitivo. A diminuição das vendas que ocorreu de 2019 para cá concentrou-se na parte inferior do mercado, enquanto a parte superior continua robusta.

Ricardo Bacellar, outro consultor automotivo, observa que embora a demanda por carros populares ainda exista, as montadoras não parecem dispostas a atendê-la: “A maioria esmagadora das vendas no programa de governo para incentivar a compra do carro zero foi de veículos de até R$ 80 mil. É muito claro que há uma demanda reprimida por carros mais baratos. Mas não há previsão de que as montadoras voltem a produzi-los. A proposta agora é em maior valor agregado e maior margem de rentabilidade.”