Não é possível discutir a política brasileira no século 21 sem abordar extensivamente a Operação Lava Jato, que celebra uma década desde o lançamento de sua primeira fase em 17 de março.
Essa operação é um contraponto a outros eventos marcantes como os protestos de Junho de 2013, o impeachment de Dilma Rousseff, a eleição de Jair Bolsonaro e os ataques de 8 de janeiro de 2023. Contudo, o impacto disruptivo da Lava Jato parece ter diminuído, embora continue a repercutir na mídia e na esfera política através de críticas, esforços para responsabilizar os envolvidos na condução da operação e processos ainda em andamento na Justiça.
O presidente Lula, principal alvo e crítico da operação, que resultou em sua prisão intermediada pelo ex-juiz e atual senador Sergio Moro, acusa a Lava Jato de conluio com os Estados Unidos. Além disso, ele tem lançado críticas severas à equipa do Ministério Público que participou na operação.
No STF, que inicialmente apoiou as investigações, o tema permanece controverso. Declarações de figuras como os ministros Luiz Fux e Gilmar Mendes sublinham o debate acerca da legalidade e das consequências da Lava Jato, trazendo a público sugestões como a criação de uma “comissão da verdade” para investigar possíveis abusos.
A Operação tornou-se um dos tópicos mais divisivos na história política do país e um tema recorrente nas últimas eleições presidenciais. Figuras como Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol têm se dedicado a defender o legado da operação contra acusações de excessos.
Enquanto os defensores do lava-jatismo apontam para a recuperação de fundos e confissões de culpados, os críticos veem na operação uma série de abusos que culminaram na crise política observada nos ataques de janeiro de 2023. No ano passado, o governo Lula tomou medidas para investigar possíveis irregularidades na condução da Lava Jato.
A credibilidade da operação foi abalada quando Moro ingressou no governo Bolsonaro após condenar Lula. As revelações do site The Intercept Brasil em 2019, expondo conversas entre Moro e procuradores, trouxeram ainda mais dúvidas sobre a integridade do processo.
A frequência de novas fases da operação pela Polícia Federal começou a diminuir até cessar completamente em 2021, após o término da força-tarefa no Paraná, embora a Lava Jato em si transcenda essas ações isoladas.
O escopo inicial da operação, focado numa rede de doleiros no Paraná, expandiu-se para envolver casos de corrupção na Petrobras e outros crimes relacionados a pagamentos ilegais para partidos e políticos, com impactos transnacionais graças à colaboração da Odebrecht.
Após dez anos, a configuração institucional e legal que possibilitou a realização da Lava Jato mudou significativamente, com alterações no STF e no MPF tornando improvável o surgimento de uma nova operação semelhante.
A perspectiva sobre a Lava Jato, comparada historicamente ao Plano Cruzado em sua promessa e insucesso, é agora vista por alguns como uma ação irresponsável que desestabilizou politicamente o Brasil, enquanto outros a veem como um esforço legítimo contra a corrupção.
As eleições municipais de 2016 e a vitória de Bolsonaro em 2018 são exemplos dos efeitos políticos da Lava Jato. Discussões contemporâneas enfatizam a necessidade de contextualizar a operação dentro do movimento anti-corrupção existente no país e refletem sobre as consequências de um possível “perdão judicial” dentro da trajetória jurídica do Brasil.