Parte da Baixada Cuiabana poderia ser engolida pelas águas. O raio de alagamentos poderia deixar 4 cidades destruídas
Mais de 345 municípios do Rio Grande do Sul (70% do estado), foram afetados pelas enchentes, causadas pelas fortes chuvas que atingiram a região, causando um impacto na vida de mais de 1,4 mi pessoas. Já parou para pensar se a tragédia que está ocorrendo lá, fosse em Mato Grosso? Entenda no post abaixo como se formou a tragédia no Sul do país:
Para simular como seria em Mato Grosso, vamos nos basear na área mais afetada – mesmo sabendo que vários outros municípios foram impactados – e antes é preciso entender o que agravou as enchentes na região sulista.
A região do Rio Grande do Sul mais afetada pela tragédia é o Vale do Taquari que abrange 36 municípios da parte central do estado, totalizando uma área aproximada de 4.826,7 km² de acordo com a FEE (Fundação Econômica e Estatística).
Três fenômenos se somaram para que isso acontecesse: ventos úmidos vindos da região da Amazônia, junto a uma forte frente fria presente no sul, somada a uma área de alta pressão no centro do país, bloquearam a passagem das nuvens, fazendo assim com que elas ficassem estacionadas na região, concentrando toda a chuva na área. Isso faz parte do fenômeno El Niño.
Devido ao volume de chuva muito acima do normal e o solo encharcado, as águas dos rios menores correram para o Rio Taquari, que subiu bruscamente de nível, causando as inundações das cidades que ficam às suas margens.
Outro fator que potencializou a tragédia no Vale Taquari é que as cidades estão construídas em locais chamados planícies de inundação: áreas que se alagam naturalmente com o aumento dos níveis dos rios. Cidades como Muçum, Santa Tereza, Encantado, Roca Sales, Arroio do Meio e Lajeado são exemplos.
Se Cuiabá estivesse localizada em uma área com as mesmas características e o Rio Cuiabá inundasse, a baixada cuiabana composta por Cuiabá, Várzea Grande e partes de Santo Antônio de Leverger e de Nossa Senhora do Livramento, que totalizam uma área de aproximadamente 5.051,6 km² estariam alagadas.
Lembrando que a capital mato-grossense está localizada no planalto central brasileiro, onde há o predomínio de planaltos – relevo constituído por uma superfície elevada – e depressões, o que poderia ou não intensificar o problema.
A Defesa Civil do Rio Grande do Sul atualizou para 95 o número de mortos em razão dos temporais que atingem o estado. O boletim divulgado na tarde desta terça-feira (7) ainda aponta que há outros 4 mortes sendo investigadas, 131 desaparecidos e 372 feridos.
Pode acontecer em Mato Grosso?
O Primeira Página entrevistou o geólogo e professor da UFMT, Caiubi Kuhn, para saber qual seria a possibilidade de eventos como esse ocorrerem no estado e ele relembrou inundações que atingiram a baixada cuiabana.
“Nós temos ciclos aqui em Mato Grosso, ciclos de inundações e ciclos de secas. De inundações, nós podemos citar por exemplo, as enchentes de 1954, 1974 e 1994 no Rio Cuiabá, ou de seca, nós podemos citar o evento atual de seca que está ocorrendo e também o que teve na década de 60”, explica.
O geólogo destaca ainda que o estado mato-grossense também pode ter eventos de grande magnitude como os que estão acontecendo no Rio Grande do Sul e reforçou que cabe ao estado estar preparado para os extremos climáticos que estão sendo intensificados nos últimos anos.
“E isso não só na região metropolitana de Cuiabá, mas em outras partes do estado, como na região do Araguaia, ou mesmo em outros locais que são às vezes distantes de grandes rios. Nós podemos citar eventos de chuvas torrenciais que ocorreram no estado, como a de Campo Novo dos Parecis há alguns anos, que inundou a cidade. Um evento parecido ocorreu agora recentemente em Cáceres”, relembra Caiubi.
O professor acrescenta ainda que a enchente histórica de Porto Alegre (RS) foi em 1941, quando o nível da água subiu até 4,76 m enquanto em maio deste ano, chegou a impressionantes 5,33 m.
Ele destaca ainda que em setembro de 1967, o nível chegou a subir até 3,11 m; em outubro de 2015, cresceu 2,92 m; em setembro do ano passado (2023), 3,18 m, em novembro, 3,46 m.
“Isso mostra que Porto Alegre possuía um histórico de recorrência de desastres causados por inundações. Cuiabá e outras cidades de Mato Grosso, também possuem histórico de recorrência de desastres naturais, como inundações. Muitos eventos são recorrentes, ou seja, fazem parte de ciclos que podem ser de alguns anos, décadas ou até séculos. Esses eventos podem ser maximizados pelos efeitos das mudanças climáticas, tornando-os assim, ainda mais fortes”, ressalta.
Há 50 anos Cuiabá ficou “debaixo d’água”
Água até no joelho, canoas nas ruas, manchas nas paredes das casas. Essas foram situações que marcaram o dia 18 de março de 1974, quando a maior enchente de todos os tempos atingiu a Baixada Cuiabana.
A forte chuva que aconteceu naquele dia fez com que o Rio Cuiabá transbordasse. Entre os diversos prejuízos, 24 mil pessoas ficaram desabrigadas e bairros inteiros foram destruídos.
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“O impacto foi muito grande não só para a comunidade – que constituía naquele momento o bairro do Porto, Terceiro, mas rio abaixo e rio acima. Um levantamento do governo na época apontou o prejuízo causado com a destruição de plantações, animais que morreram e casas que foram destruídas”, comentou o economista e escritor Antônio Soares Gomes.
A aposentada Liene da Silva era moradora do antigo bairro Terceiro, uma das regiões mais prejudicadas pela enchente. Ela vivenciou de perto essa tragédia.
“Era como se fosse uma família, sofremos juntos. É difícil falar para você. Na época, falavam que era bairro periférico, disseram que só tinha pescador, carroceiro e não era verdade”, comentou ela sobre a sensação de descaso que sentiu.
Veja como ajudar o Rio Grande do Sul
Só na região norte de Mato Grosso, colonizada principalmente por gaúchos, mais de 50 toneladas de alimentos, água mineral, produtos de limpeza e higiene, além de roupas, calçados cobertores, já foram arrecadadas.
As doações devem começar a sair do estado nesta terça-feira (7). Tem arrecadações por todo estado. As campanhas tem o apoio do exército, são organizadas principalmente pelos CTGs (Centro de Tradições Gaúchas) nos municípios.
Você vai fazer doações de roupas para as famílias do Rio Grande do Sul? A personal organizer Amanda Utzig dá dicas de como organizar as peças antes de levá-las para os pontos de coleta de sua cidade. Assista o vídeo.
Além das peças , as vítimas que moram em RS precisam de roupas de cama, toalhas, produtos de higiene e limpeza; peças íntimas (calcinhas e cuecas); colchão; alimentos não perecíveis; água potável; ração para pets; e medicamentos.
Fonte : Primeira Página