Cobrindo de perto uma catástrofe de grande impacto, observei a devastação em Eldorado do Sul, uma pequena cidade gaúcha que, há mais de 15 dias, enfrenta uma das mais graves enchentes já registradas na região. Com quase 80% de sua população afetada, esta cidade tornou-se um símbolo de resistência e desolação.
O retorno do sol e a devagar diminuição dos níveis do rio Jacuí e do lago Guaíba começaram a esboçar um cenário menos sombrio, permitindo que alguns moradores abrissem suas casas pela primeira vez. A cena era de desolação total: móveis pesados como sofás e camas haviam sido arrastados para longe, enquanto eletrodomésticos, mesas, cadeiras e roupas jaziam cobertos de lama.
A tragédia se repetia casa após casa, e o drama humano se desdobrava com relatos pungentes. Conversei com Fabrício Santos, um técnico de manutenção de 48 anos, cuja tentativa de salvar o essencial foi em vão diante da rapidez da enchente. “A ficha ainda não caiu, mas vamos recomeçar”, disse ele, enquanto sua esposa varria o que restava do pátio. A perda do álbum de gestante da esposa revelou o peso emocional da tragédia.
Enquanto isso, a mãe de Santos, Maria Terezinha, encontrou sua casa de madeira praticamente irreconhecível. Entre lágrimas contidas, ela repetia frases de motivação, um reflexo da resiliência que emergia entre os moradores. Em uma pequena área seca de Eldorado do Sul, vizinhos emocionados se reencontravam e as simples palavras “Estamos vivos” se tornaram um mantra de esperança e solidariedade.
Acompanhar de perto essa tragédia em Eldorado do Sul foi uma experiência transformadora, um testemunho do espírito humano enfrentando adversidades quase insuperáveis. A cidade, submersa e castigada, agora enfrenta o desafio de se reerguer, lembrando ao mundo sobre a vulnerabilidade humana diante das forças da natureza.
Fonte : Folha Press