Lula critica greve em universidades federais: ‘Não há razão para durar o que está durando’

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Foto: Ricardo Stuckert / PR

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta segunda-feira (10), a greve de professores e servidores técnicos de universidades e institutos federais em andamento há cerca de 60 dias. Durante pronunciamento no Palácio do Planalto, o petista afirmou que, ao analisar a situação como um todo, será possível perceber que “não há razão para a greve durar o que está durando”.

“Eu acho que nesse caso da educação, se vocês analisarem o conjunto da obra vão perceber que não há muita razão para essa greve durar o que está durando. Quem está perdendo não é o Lula, não é o reitor, quem está perdendo é o Brasil e os estudantes brasileiros. É isso que precisa levar em conta. Não é por 3%, 2% e 4% que a gente fica a vida inteira de greve, vamos ver outros benefícios”, afirmou.

A fala ocorreu durante cerimônia que contou com a presença de reitores de universidades e institutos federais. Na ocasião, o governo federal anunciou um investimento de R$ 5,5 bilhões em obras para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), direcionado a obras de expansão e consolidação desses estabelecimentos  de ensino e de hospitais universitários.

Ainda durante a fala, Lula disse que os dirigentes sindicais começaram uma greve, mas não têm coragem para encerrar as paralisações. Os docentes e servidores técnicos pressionam o governo federal por reajuste salarial. Eles reivindicam correção de 3,69% neste ano, 9% em janeiro de 2025 e outros 5,16% em 2026. O Ministério da Gestão e da Inovação (MGI) é quem toca as negociações com a classe e negou esses índices.

“A greve tem um tempo para começar e um tempo para terminar. A única coisa que não se pode permitir é que uma greve termine por inanição. A única coisa que não pode acontecer é porque se ela terminar as pessoas ficam desmoralizadas. Então, o dirigente sindical ele tem que ter coragem de propor, tem que ter coragem de negociar, mas ele tem que ter coragem de tomar decisões que muitas vezes não são tudo ou nada que ele apregoa”, disse.

Segundo o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), há 62 instituições federais de ensino superior paralisadas atualmente, e mais três entrarão em greve na segunda-feira (10). “O montante de recursos que a companheira (ministra) Ester colocou à disposição é o montante de recursos não recusável. Eu só quero que leve-se em conta, porque senão nós vamos falar em universidade, institutos federais, e os alunos estão à espera de voltar para a sala de aula”, disse Lula. 

Novo PAC

De acordo com o Ministério da Educação, o investimento de R$ 5,5 bilhões será destinado para a criação de 10 novos campi e para melhorias na infraestrutura das 69 universidades federais. A ampliação vai resultar em 28 mil novas vagas para estudantes de graduação. Os novos campi serão construídos nas cidades de:

  • Ipatinga (MG); 
  • Baturité (CE); 
  • Caxias do Sul (RS); 
  • Cidade Ocidental (GO); 
  • Estância (SE); 
  • Jequié (BA); 
  • Rurópolis (PA); 
  • São Gabriel da Cachoeira (AM); 
  • São José do Rio Preto (SP); 
  • e Sertânia (PE).

Além disso, serão repassados recursos a 31 hospitais universitários da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh). Oito hospitais são novos e estão ligados às universidades federais de Juiz de Fora e Lavras (MG), Pelotas (RS), Acre, Roraima, Rio de Janeiro, São Paulo e Cariri (CE).

O petista disse ainda que a escolha dos campi universitários não seguiram critérios político-partidários, mas sim cidades que representam “vazios educacionais” e que tem “menos cursos superiores”. “O que queremos é interiorizar a possibilidade de a pessoa estudar”. 

Protesto em frente ao Palácio do Planalto 

Durante o evento, várias entidades representativas da educação protestaram na Praça dos Três Poderes em frente ao Palácio do Planalto. O trânsito não chegou a ser bloqueado.

Inicialmente, agenda com os reitores estava prevista para ocorrer na semana passada, mas foi adiada para esta segunda-feira, porque no último dia 6 o petista fez uma viagem emergencial ao Rio Grande do Sul devido a tragédia que vive a região a mais de um mês. 

Durante a cerimônia, Lula e o ministro da Educação, Camilo Santana, ouviram de reitores cobranças quanto uma solução para o fim das greves. A presidente da Andifes e reitora da Universidade de Brasília (UNB), Márcia Abrahão, que discursou no Palácio do Planalto, cobrou uma solução para a questão salarial dos servidores das universidades.

Lula endereça recados a Camilo Santana  

Ao discursar, o presidente cobrou do ministro da Educação a entrega dos 12 Institutos Federais, que foram anunciados ano passado. Ele disse ainda que os reitores têm papel importante na interlocução com gestores locais. “Eu queria fazer um apelo para vocês [reitores]. Eu cobro toda semana do Camilo: pelo amor de Deus, nós temos que começar a construir os institutos que nós anunciamos. Se não tem terreno, vamos comprar o terreno. Os reitores podem ir nos prefeitos e saber se tem prédio na cidade que a gente pode colocar um instituto”. 

‘O curso desperta tesão no aluno?’

Em novo recado ao ministro da Educação, Lula pediu que Camilo Santana faça uma pesquisa para entender a desistência dos jovens com o ensino. “Camilo a gente precisa fazer um estudo para saber se a pessoa desiste da escola, porque tem necessidades em desistir, ou se a escola não está sendo atraente”, disse Lula.  

Embora ele cite “escola” em sua fala, o petista não deixa claro se ele está comentando especificamente sobre evasão escolar, ou da formação técnica ou até mesmo da educação de nível superior.   

“É preciso saber se o curso está sendo atraente. O curso desperta tesão no aluno? Ele levanta de manhã e diz: “hoje eu vou porque não quero perder aquela aula, eu não quero perder aquele professor”. É isso. Ou ele diz: “eu vou para a escola, porque a escola é chata, professor chato, professora chata’”, concluiu.

Por Manuel Marçal | O Tempo