O Brasil, que ocupa a posição de quarto maior produtor e exportador de carne suína do mundo, deverá exportar cerca de 1,5 milhão de toneladas de carne suína em 2024, de acordo com estimativas do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Com um papel fundamental na economia nacional, o setor suinícola busca soluções para manter a sanidade dos plantéis e atender à crescente demanda global por proteína suína.
Entre as práticas amplamente utilizadas, destaca-se o uso do óxido de zinco (ZnO) na prevenção de doenças entéricas, como a diarreia pós-desmame e a doença do edema em leitões desmamados. Contudo, o crescente debate sobre os impactos ambientais e a resistência antimicrobiana tem impulsionado a busca por alternativas mais sustentáveis a esse composto.
Eficácia do Óxido de Zinco e Seus Desafios Ambientais
Pedro Filsner, médico-veterinário e gerente nacional de serviços veterinários de suínos da Ceva Saúde Animal, explica que o uso do óxido de zinco é essencial durante a fase de desmame, momento crítico para os leitões, quando o estresse compromete o sistema imunológico e aumenta a susceptibilidade a patógenos. O ZnO é eficaz na prevenção de problemas intestinais, melhorando a saúde intestinal e controlando a proliferação de bactérias como a Escherichia coli.
A doença do edema, causada por cepas de Escherichia coli produtoras da toxina Shiga2 (Vt2e), é uma das condições mais fatais que afeta os leitões desmamados. O óxido de zinco desempenha um papel importante no controle dessa doença. Contudo, o uso prolongado e em altas concentrações do composto gera preocupações, especialmente no que diz respeito à sua excreção nas fezes dos animais, que, frequentemente, são utilizadas como fertilizante natural. Esse processo pode levar à contaminação do solo e dos lençóis freáticos, impactando negativamente o meio ambiente.
Além disso, o acúmulo excessivo de zinco pode ter efeitos tóxicos nos órgãos dos suínos, como rins, fígado e pâncreas, comprometendo a saúde e a produtividade dos animais. A utilização indiscriminada do composto também pode contribuir para o desenvolvimento de resistência bacteriana, um fenômeno que ameaça a eficácia dos tratamentos antimicrobianos, afetando tanto a saúde animal quanto humana.
Restrições Internacionais e Oportunidade para Inovação
Preocupações com os impactos do óxido de zinco têm levado a restrições em vários países. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) proibiu o uso de ZnO para leitões na fase de desmame, permitindo sua utilização apenas com fins terapêuticos e em doses abaixo de 150 ppm. O Canadá impôs uma restrição, permitindo a inclusão de no máximo 350 ppm do mineral na alimentação dos leitões, enquanto a China estipulou um limite de 1600 ppm nas suas granjas.
Embora no Brasil, assim como nos Estados Unidos, não haja restrições formais sobre o uso de óxido de zinco, o país, com seu papel destacado na produção e exportação de carne suína, poderá ser impactado por novas diretrizes internacionais que visam a redução ou o banimento desse mineral na cadeia produtiva, como observa Filsner.
Alternativas Sustentáveis e o Papel das Vacinas
A transição para métodos mais ecológicos e eficazes exige uma abordagem integrada, que combine alternativas naturais, ajustes nutricionais e melhores práticas de manejo. A inclusão de probióticos, como Lactobacillus e Bifidobacterium, e prebióticos, como inulina e frutooligossacarídeos, pode melhorar a saúde intestinal e reduzir a incidência de doenças entéricas. A suplementação com ácidos orgânicos, como ácido fórmico e ácido láctico, também é eficaz para acidificar o trato gastrointestinal e inibir o crescimento de patógenos como E. coli.
Uma alternativa promissora é a vacinação. Pedro Filsner destaca que o desenvolvimento de vacinas específicas contra cepas de Escherichia coli, causadoras da diarreia e da Doença do Edema, representa uma estratégia preventiva e sustentável. Essas vacinas podem reduzir a necessidade do uso de óxido de zinco, estimulando a imunidade dos leitões contra os patógenos responsáveis pelas doenças entéricas.
O Futuro Sustentável da Suinocultura Brasileira
A substituição do óxido de zinco é crucial para mitigar os impactos ambientais e combater a resistência antimicrobiana. A implementação de alternativas sustentáveis pode garantir a eficácia na prevenção de doenças como a do edema e outras condições intestinais, promovendo uma suinocultura mais responsável e ambientalmente consciente. Filsner reforça que investimentos em pesquisa e desenvolvimento são essenciais para viabilizar práticas inovadoras, assegurando um futuro sustentável para a suinocultura brasileira. A transição para métodos mais ecológicos é um passo importante para uma produção suína moderna, eficiente e ambientalmente responsável.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio