A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) encerrou 2024 com um déficit orçamentário de aproximadamente R$ 200 milhões. Para 2025, a situação financeira tende a se agravar, com previsão de um orçamento ainda mais restrito para custear as atividades de pesquisa e desenvolvimento.
Segundo a proposta orçamentária original do governo, em fase de aprovação pelo Congresso Nacional, a Embrapa deverá receber R$ 137,4 milhões para suas atividades, um valor significativamente inferior aos R$ 203,1 milhões aprovados inicialmente para 2024, que após cortes foi reduzido para R$ 176,5 milhões. A estimativa da estatal é que seriam necessários R$ 510 milhões para manter os projetos em andamento.
Após negociações no Congresso, o orçamento de 2025 poderá ser elevado para R$ 161,6 milhões, com um acréscimo de R$ 29 milhões provenientes de emendas individuais, totalizando R$ 190,6 milhões. Ainda assim, o valor não cobre as necessidades da instituição, que já enfrenta dificuldades para manter suas operações básicas.
Pesquisa Impactada por Restrição Orçamentária
Em nota, a Embrapa informou que os cortes de 2024 levaram à paralisação de projetos e à suspensão de novos estudos. A empresa também destacou que enfrentou bloqueios e cancelamentos orçamentários devido ao ajuste fiscal, o que prejudicou o pagamento de despesas operacionais e contratos em todas as suas 43 unidades descentralizadas.
De acordo com um pesquisador que atua há mais de 50 anos na empresa, a crise atual é a mais grave já enfrentada. “Não há recursos para pagar despesas básicas como água, luz, telefone e segurança. A pesquisa está completamente comprometida”, afirmou, sob condição de anonimato.
O pesquisador destacou ainda que, há mais de uma década, evita submeter projetos diretamente à Embrapa devido à falta de recursos. A saída, segundo ele, é buscar financiamento privado, mas essa estratégia também apresenta desafios. “Sem financiamento externo, realizar pesquisa na Embrapa tornou-se quase impossível.”
Medidas de Contenção e Propostas de Modernização
Nos últimos anos, o orçamento discricionário da Embrapa foi reduzido em 80%. Para enfrentar o cenário de escassez, a estatal adotou medidas de contenção de despesas, como renegociação de contratos, implantação de usinas fotovoltaicas, compras coletivas entre unidades e negociações para isenção de tributos estaduais e federais.
Além disso, cerca de 73% dos projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação da Embrapa dependem atualmente de parcerias e captação externa. A empresa está implementando o Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), com o objetivo de aumentar a eficiência na gestão de projetos e parcerias.
Apesar de iniciativas como a destinação de R$ 169,6 milhões para investimentos via Novo PAC, especialistas alertam para a falta de recursos para custeio associado, necessário para manter os projetos em funcionamento.
Críticas à Gestão e Perspectivas
Internamente, há críticas quanto à lentidão na implementação de propostas para modernização e financiamento da estatal. Um grupo de trabalho criado em 2023 pelo ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, apresentou cerca de 100 recomendações para melhorias na gestão, mas poucas foram efetivadas.
A ampliação da arrecadação de royalties é uma das medidas propostas, mas encontra resistência. “Nenhum instituto de pesquisa no mundo sobrevive apenas de royalties. O financiamento da ciência precisa vir do Tesouro Nacional”, argumentou uma fonte ligada à estatal.
Com um orçamento insuficiente e a crescente necessidade de parcerias externas, a Embrapa enfrenta o desafio de se manter como referência em pesquisa agropecuária, enquanto busca soluções para evitar a paralisação de suas atividades e garantir sua sustentabilidade a longo prazo.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio