Trabalhadores rurais imigrantes nos Estados Unidos estão se preparando para o plano de deportação em massa prometido pelo presidente eleito Donald Trump, incluindo medidas como a designação de tutores para seus filhos caso sejam detidos, de acordo com organizações que oferecem apoio jurídico a esses trabalhadores.
A crescente demanda por serviços jurídicos reflete a crescente preocupação de que Trump cumpra sua promessa de campanha de deportar milhões de imigrantes ilegais, a partir de sua posse em 20 de janeiro. Tal ação pode afetar profundamente o setor agrícola dos EUA, que depende enormemente da força de trabalho imigrante. Estima-se que cerca de metade dos trabalhadores rurais contratados no país não possuam status legal de imigração, conforme dados do Departamento de Agricultura dos EUA. Grupos comerciais agrícolas alertam que a deportação desses trabalhadores poderia prejudicar a produção de alimentos no país.
Sarait Martinez, diretora executiva do Centro Binacional para el Desarrollo Indígena Oaxaqueño (CBDIO), que apoia trabalhadores rurais indígenas mexicanos na Califórnia, comentou: “O governo ainda não tomou posse, mas as pessoas já estão com medo.”
Aumento na demanda por orientação jurídica e workshops
Representantes de organizações de apoio a trabalhadores rurais e imigrantes, incluindo o CBDIO, relataram um aumento significativo no interesse por workshops e recursos sobre como lidar com autoridades de imigração e proteger suas famílias em caso de detenção. Algumas dessas oficinas oferecem dramatizações de confrontos com agentes de imigração, além de orientações sobre como preencher documentos legais, como a designação de tutores temporários para filhos, a transferência de responsabilidades financeiras e a autorização para viagens internacionais dos filhos, caso os pais sejam deportados.
Alfredo, um trabalhador rural no estado de Washington, explicou à Reuters que está participando desses treinamentos para repassar o que aprendeu a seus colegas de trabalho. “Estamos definitivamente muito preocupados. Nós realmente temos orgulho de fazer trabalho agrícola, mas está ficando muito difícil ansiar por sair para trabalhar”, afirmou.
Potencial impacto na produção agrícola e na economia
Durante seu primeiro mandato (2017-2021), o governo Trump realizou operações de deportação em locais de trabalho, incluindo fábricas de processamento de aves e instalações agrícolas em Nebraska. Embora o novo governo tenha declarado que priorizará a deportação de imigrantes ilegais que representem ameaças à segurança pública ou nacional, a possibilidade de expandir as deportações para incluir trabalhadores rurais sem documentos não foi descartada.
Karoline Leavitt, porta-voz da equipe de transição do governo Trump, afirmou: “O presidente Trump convocará todos os poderes federais e se coordenará com as autoridades estaduais para instituir a maior operação de deportação de criminosos ilegais, traficantes de drogas e traficantes de pessoas da história americana.”
A indústria agrícola, especialmente na Califórnia, teme os impactos negativos da deportação de trabalhadores imigrantes, pois o estado é responsável por uma parte significativa da produção agrícola dos EUA, incluindo vegetais, frutas, nozes e laticínios. Cerca de 400.000 trabalhadores rurais são necessários para colher e processar esses alimentos, e aproximadamente 75% deles são imigrantes sem documentos.
Desafios no acesso a serviços jurídicos
Apesar da alta proporção de trabalhadores imigrantes indocumentados, muitos enfrentam dificuldades no acesso a serviços jurídicos adequados, especialmente nas áreas rurais da Califórnia, de acordo com Ivette Chaidez Villarreal, diretora do programa de engajamento cívico da Valley Voices. O grupo está criando uma rede de resposta rápida para apoiar trabalhadores sujeitos a batidas de imigração.
Patricia Ortiz, diretora jurídica de imigração da California Rural Legal Assistance, destacou que a localização rural dificulta o acesso a serviços jurídicos, colocando os trabalhadores em uma posição ainda mais vulnerável em comparação com outros setores.
Preocupações com a separação de famílias
Além dos desafios legais, trabalhadores indocumentados que têm filhos nascidos nos EUA estão particularmente preocupados com a possibilidade de serem separados de suas famílias. De acordo com o Pew Research Center, cerca de 4,4 milhões de crianças nascidas nos EUA vivem em casas com pelo menos um dos pais imigrantes não autorizados.
Martinez, do CBDIO, relatou que muitos trabalhadores do grupo falam idiomas como mixteco e zapoteco, o que complica o acesso a serviços de imigração. Para essas famílias, o apoio jurídico e a obtenção de passaportes para seus filhos nascidos nos EUA são questões essenciais.
Capacitação intensificada em todo o país
Em outras regiões, como no norte do estado de Nova York, o Programa de Trabalhadores Rurais de Cornell aumentou drasticamente suas oficinas sobre imigração. A diretora Mary Jo Dudley relatou que as oficinas agora ocorrem com frequência diária e incluem dramatizações que ensinam os trabalhadores a interagir com agentes de imigração.
“Estamos trabalhando contra o relógio”, afirmou Dudley, destacando a urgência e a crescente demanda por treinamento e orientação entre os trabalhadores rurais imigrantes.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio