Brasília, 07/02/2025 – O Brasil ocupa o primeiro lugar entre os países que mais contribuíram para a base de dados I-Familia, da Interpol, com o maior número de registros de perfis de DNA de restos mortais humanos não identificados. A ferramenta conecta perfis genéticos de familiares de desaparecidos a de corpos sem identidade conhecida, o que facilita o encontro de possíveis vínculos.
O I-Familia é uma base de dados global dedicada à identificação de pessoas desaparecidas que permite que amostras genéticas de familiares sejam comparadas a restos mortais humanos sem identidade conhecida. Criado em 2021, o sistema já apresenta resultados positivos, com novas possibilidades para a solução de casos de desaparecimento em diversas partes do mundo.
O Brasil se destaca como o principal contribuinte do I-Familia, seguido por África do Sul, Holanda, República Tcheca, Alemanha, Espanha, Belarus, Lituânia, Reino Unido e Malásia. A base I-Familia conta com 18.832 perfis de DNA, provenientes de 72 países membros. Essa quantidade representa um aumento de 51% desde janeiro de 2024 em relação ao ano anterior.
De acordo com a diretora do Sistema Único de Segurança Pública da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), Isabel Figueiredo, a liderança brasileira demonstra o empenho das autoridades locais em dar prioridade à busca de desaparecidos e evidencia as ações do Governo Federal voltadas para a justiça e para os direitos humanos no cenário global.
Segundo ela, esse resultado é fruto da dedicação das instituições de segurança pública, em especial de perícia criminal, e da cooperação internacional, que têm trabalhado para fortalecer as políticas de identificação. “A base I-Familia é uma ferramenta essencial nesse processo, que permite que restos humanos não identificados possam, enfim, ter um nome e uma história reconhecida. Cada perfil de DNA inserido representa uma nova esperança para famílias que aguardam respostas”, diz Isabel.
O chefe do Escritório Nacional Central da Interpol no Brasil, Fábio Mertens, reforça que o Brasil se destaca no cenário internacional pelo seu engajamento. Segundo ele, tanto o escritório central, em Brasília (DF), quanto as representações regionais da Polícia Federal nos estados têm se empenhado ativamente nessas investigações. “A partir da notificação do desaparecimento em contexto internacional, uma série de ações articuladas é iniciada, podendo envolver, inclusive, o compartilhamento de perfis genéticos com a base de dados global I-Familia”, explica Mertens.
Interpol
Desde 2018, a Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG) do Brasil tem ampliado sua participação no compartilhamento internacional de informações.
Até novembro de 2024, o Banco Nacional de Perfis Genéticos (BNPG) brasileiro já havia enviado 30.821 perfis genéticos de vestígios criminais e 11.080 de restos mortais não identificados para as bases de dados da Interpol.
Em 2024, o Brasil encaminhou 47 amostras à base de dados da Interpol. A Organização Internacional de Polícia Criminal é composta por 196 países membros, incluindo o Brasil, e atua na cooperação global no combate ao crime. Entre seus serviços, destaca-se o suporte técnico e operacional para investigações criminais, incluindo o compartilhamento de informações genéticas forenses.
Desde a criação do banco de perfis genéticos da organização, em 2002, a ferramenta tem sido fundamental para resolver crimes não solucionados, identificar suspeitos, criminosos condenados e restos mortais não identificados. Cada país mantém total controle sobre seus próprios dados no sistema, garantindo a soberania sobre as informações compartilhadas.
Além do I-Familia, o Brasil tem contribuído com a base de dados de outros países — foram enviados 12 perfis de restos mortais não identificados no último ano.
A gerente de operações internacionais do Banco Nacional de Perfis Genéticos, Aline Minervino, ressalta que a dinâmica social das sociedades modernas leva ao constante registro de pessoas desaparecidas em um contexto transnacional. “A tecnologia aplicada à genética forense tem desempenhado um papel crucial na busca de indivíduos desaparecidos, especialmente em cenários migratórios e de desastres”, explica.
Segundo ela, a cooperação internacional e o compartilhamento responsável de dados são ferramentas essenciais nesse esforço contínuo. “Cada país mantém total controle sobre seus próprios dados no sistema, o que garante a soberania sobre as informações compartilhadas”, finaliza.