A semana foi marcada por importantes mudanças regulatórias no mercado de biodiesel, além de forte volatilidade nos preços das matérias-primas. O principal destaque foi a decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de adiar a ampliação da mistura obrigatória de biodiesel no diesel de 14% para 15% (B15). O anúncio, feito em 18 de fevereiro, foi justificado pela necessidade de conter a alta dos preços dos alimentos e surpreendeu o setor, que já havia se preparado para a nova exigência a partir de março.
Em resposta, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que a decisão poderá ser revista “a qualquer momento”, enquanto o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, indicou, após reunião com representantes do setor, que a medida poderá ser implementada em 60 dias.
Impactos na produção e consumo
Segundo estimativas da consultoria StoneX, caso o adiamento seja mantido, as usinas de biodiesel podem deixar de comercializar 600 mil metros cúbbicos do biocombustível em 2025. A projeção de produção foi revisada para 9,6 milhões de metros cúbicos, abaixo da previsão anterior de 10,2 milhões. Com isso, o consumo de óleo de soja pelo setor também deve ser reduzido para 7,8 milhões de toneladas, 500 mil toneladas abaixo da estimativa inicial.
Enquanto isso, a Agroconsult revisou para baixo sua projeção para a safra brasileira de soja 2024/2025, estimando agora 171,3 milhões de toneladas, uma redução de 1,1 milhão de toneladas em relação à previsão anterior. A consultoria dividiu os estados produtores em três grupos: Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul registram perdas irreversíveis devido à estiagem e altas temperaturas; Mato Grosso e Bahia apresentam alto potencial produtivo, com médias recordes de produtividade; e os demais estados mantêm perspectivas positivas, apesar dos desafios climáticos.
Colheita e previsão climática
A colheita da safra de soja segue avançando no Brasil. Em Mato Grosso, 50% da área foi colhida, abaixo dos 65% registrados no mesmo período do ano passado e da média histórica de 53%. No Mato Grosso do Sul, a colheita atingiu 17,3% da área, com previsão de chegar a 79% até meados de março. No Paraná, o avanço na última semana foi de 10%.
A previsão climática para os próximos 15 dias aponta três momentos distintos. No curto prazo, o tempo permanecerá aberto, com chuvas restritas ao extremo norte do país e ao litoral entre Santa Catarina e São Paulo. No período de 6 a 15 dias, uma nova frente fria deve atingir o Rio Grande do Sul, se espalhando posteriormente para o Centro-Sul. A partir de 3 de março, espera-se um período mais seco, com chuvas concentradas principalmente no Norte.
Cenário internacional e preços
No mercado global, a Indonésia, maior produtora mundial de óleo de palma, anunciou que pretende implementar integralmente a mistura de 40% de biodiesel ao diesel em março de 2025, com previsão de avançar para 50% em 2026. Essa iniciativa deve impulsionar a demanda global por óleo de palma, afetando os preços dos óleos vegetais, incluindo o óleo de soja.
O contrato de março/25 de óleo de soja na Bolsa de Chicago (CBOT) encerrou a sexta-feira a 47,34 cents/libra, uma variação semanal de 2,8%. Já os prêmios do óleo de soja em Paranaguá recuaram mais de 300 pontos, fechando a semana em 0,20 cents/libra. Com isso, o preço do óleo de soja FOB Paranaguá caiu 4,9%, encerrando a semana em US$ 1.048/tonelada.
Fiscalização e medidas contra fraudes
A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) interditou três distribuidoras de combustíveis em São Paulo devido a irregularidades na mistura obrigatória de biodiesel ao diesel. As investigações apontam inconsistências nos estoques e movimentações suspeitas, sugerindo possíveis fraudes fiscais e descumprimento da legislação.
Em paralelo, a cadeia de combustíveis propôs à ANP a criação de um operador nacional de controle para fiscalização e combate ao crime organizado no setor. A iniciativa inclui a doação de equipamentos para fiscalização instantânea nos postos, visando mitigar os impactos da redução de 20% a 25% nos recursos federais destinados à ANP entre outubro de 2024 e janeiro de 2025.
Tendências e perspectivas
De acordo com a atualização semanal da ANP, o preço médio negociado entre usinas e distribuidoras na primeira semana de fevereiro (10 a 16/02) foi de R$ 5.906 por metro cúbico, com leve redução de 0,2% em relação à semana anterior. O mercado acumula no ano uma retração de 6,7%, com variações regionais, como aumento de 0,9% no Centro-Oeste e queda de 2% no Norte.
Para a próxima semana, o setor acompanhará de perto o avanço da colheita de soja, a fiscalização da ANP e a finalização das negociações para a contratação de biodiesel, fatores que podem influenciar diretamente os preços e o equilíbrio do mercado.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio