Tecnologia Inovadora Permite Monitoramento Remoto da Temperatura Corporal de Bovinos

0
17

A Embrapa Gado de Corte (MS) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) desenvolveram um sistema inovador de monitoramento da temperatura corporal de bovinos, capaz de operar remotamente por meio de um sensor instalado no canal auditivo dos animais. A tecnologia, que já teve sua patente depositada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) sob o número BR 10 2024 021350 5, se destaca pela fixação segura, sem causar desconforto ao gado, promovendo maior bem-estar e eficiência no manejo.

Além de aprimorar as práticas sanitárias, o sistema reforça a rastreabilidade da carne, fator cada vez mais relevante no cenário da segurança alimentar e no atendimento às exigências sanitárias internacionais.

Monitoramento inteligente e sustentável

O desenvolvimento do sistema é resultado do trabalho de mestrado de Arthur Lemos, no Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da Faculdade de Computação (Facom-UFMS), em parceria com a Embrapa. A escolha da temperatura corporal como parâmetro de análise se deve ao fato de ser um indicativo fisiológico importante para a identificação de infecções, inflamações, períodos de cio e estresse nos animais.

A inovação funciona por meio de energia solar, dispensando o uso de baterias e eliminando a influência da temperatura ambiente nas medições. Segundo Lemos, essa fonte alternativa garante maior durabilidade ao sistema e reduz a necessidade de manutenção. A escolha pelo sensor auricular também foi estratégica, pois proporciona melhor fixação, reduzindo perdas no manejo e garantindo a integridade dos bovinos.

Pedro Paulo Pires, pesquisador da Embrapa e um dos pioneiros da pecuária de precisão no Brasil, destaca que a medição manual da temperatura corporal central (TCC) em bovinos é um processo oneroso e estressante para os animais. Métodos convencionais, como transponders RFID equipados com sensores de temperatura, exigiriam uma infraestrutura complexa e custosa. Já as câmeras termográficas, apesar de viáveis, sofrem interferência das condições ambientais, comprometendo a precisão das leituras. “Encontrar um dispositivo ideal para esse tipo de monitoramento sempre foi um desafio, mas essa inovação tem apresentado resultados promissores”, enfatiza Pires.

Parceria entre universidade e Embrapa impulsiona inovação

O sistema foi desenvolvido por meio de uma colaboração entre Lemos, Pires, o professor da Facom-UFMS Fábio Iaione e o analista de tecnologia da informação da Embrapa, Quintino Izidio. A parceria entre Facom-UFMS e Embrapa já resultou em cerca de 50 dissertações de mestrado ao longo dos últimos 15 anos, demonstrando o impacto positivo da pesquisa aplicada na geração de soluções tecnológicas para a pecuária brasileira.

O dispositivo, que une conhecimentos das áreas de zootecnia, pecuária, veterinária, engenharia e computação, é composto por uma unidade principal, um sensor de temperatura e uma base transceptora. Esta última pode estar posicionada a até 25 km de distância dos animais monitorados, cobrindo amplas áreas de circulação do rebanho.

“O sensor mede periodicamente a temperatura do canal auricular e a geolocalização do animal, transmitindo os dados via wireless para um receptor remoto conectado à internet. Essas informações são enviadas para um servidor, onde o produtor pode acessá-las em tempo real”, explica Iaione. O sistema conta ainda com alertas para situações de risco, como febre, inflamações e estresse térmico, possibilitando uma resposta rápida para evitar prejuízos à saúde dos bovinos.

Benefícios para a pecuária e perspectivas futuras

A detecção precoce de enfermidades é um dos principais benefícios da tecnologia. Pires ressalta que doenças como a febre aftosa se espalham rapidamente, especialmente em regiões onde a vacinação não é mais obrigatória. Além disso, o monitoramento contínuo do estresse térmico pode auxiliar na manutenção da produtividade, evitando quedas na produção de carne e leite e reduzindo a incidência de doenças no rebanho.

A Embrapa busca agora parceiros para a produção em larga escala do dispositivo, visando facilitar o acesso dos pecuaristas à inovação. Quintino Izidio destaca que a tecnologia poderá simplificar o manejo diário, permitindo, por exemplo, a identificação de cio e proximidade do parto por meio da variação da temperatura corporal das fêmeas, além de oferecer vantagens semelhantes à pesagem remota dos animais, sem a necessidade de deslocamento ao mangueiro.

O processo de patenteamento e sua importância

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) define a patente como um mecanismo de proteção das invenções, conferindo aos desenvolvedores o direito de exclusividade sobre suas criações. Embora o processo de registro possa parecer burocrático e dispendioso, ele é fundamental para garantir o reconhecimento da autoria e a valorização da inovação no mercado.

Na Embrapa, o acompanhamento dos pedidos de patente é realizado por instâncias especializadas. A analista Dayanna Schiavi explica que, para ser patenteável, uma invenção precisa atender aos critérios de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial. Sua equipe, em parceria com profissionais da Agência de Internacionalização e de Inovação (Aginova), da UFMS, auxiliou os pesquisadores no registro do sistema de monitoramento de temperatura, garantindo que ele atendesse a todos os requisitos legais.

O processo de patenteamento começa com uma pesquisa para verificar a existência de tecnologias similares. Caso a invenção seja inédita, ela é registrada no INPI, seguindo um rigoroso acompanhamento técnico. “A patente agrega valor ao ativo tecnológico, especialmente na fase de negociação com o mercado”, conclui Schiavi.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio