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Agricultores de Illinois temem prejuízos com tarifas de Trump sobre o México

As tarifas impostas pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre importações do México despertam grande preocupação entre os agricultores de Jacksonville, Illinois. O receio é que a retaliação mexicana direcione a demanda por milho para concorrentes sul-americanos, comprometendo um mercado crucial para os produtores norte-americanos.

O México, maior importador mundial de milho, desempenha um papel fundamental para os agricultores dos EUA, especialmente em um momento de queda nos preços dos grãos e aumento dos custos com sementes e defensivos agrícolas. Para os produtores de Jacksonville, cidade de aproximadamente 17 mil habitantes, essa relação comercial é ainda mais vital, devido à proximidade com uma unidade de armazenamento e transporte de grãos que escoa o milho para o mercado mexicano por ferrovia.

Os agricultores da região chegam a percorrer até 100 quilômetros para vender sua produção na unidade da empresa Bartlett, especializada no manuseio de safras. Segundo os produtores, a empresa costuma oferecer preços mais atrativos em comparação a outros compradores, dada sua ligação direta com o mercado mexicano.

No entanto, a decisão de Trump de aplicar tarifas de 25% sobre importações do México e Canadá levanta temores de que o governo mexicano adote medidas retaliatórias, reduzindo a compra de milho dos EUA. A China, por exemplo, já respondeu às tarifas norte-americanas com taxações adicionais sobre US$ 21 bilhões em produtos agrícolas e alimentícios dos Estados Unidos.

A perspectiva de menor demanda mexicana e preços deprimidos preocupa agricultores em todo o país, mas o impacto pode ser ainda mais severo para Illinois. Dados do governo americano indicam que 60% das exportações de milho para o México são feitas por via ferroviária, e 40% desses embarques têm origem em Illinois.

Agricultores temem perda de mercado

“Precisamos desse mercado e espero que eles também precisem de nós, mas a concorrência global é acirrada”, afirmou Marty Marr, de 70 anos, produtor da região que cultiva milho em cerca de 2.000 acres. Para ele, tarifas retaliatórias podem levar o México a priorizar fornecedores da América do Sul em detrimento dos EUA, o que representaria uma grande perda para os produtores locais. Atualmente, aproximadamente 36% dos compromissos de exportação de milho dos EUA são destinados ao mercado mexicano, conforme dados do governo americano.

As políticas comerciais e tarifárias adotadas por Trump em seu primeiro mandato já haviam impactado significativamente o setor agrícola, especialmente as vendas de soja para a China. A imposição de tarifas chinesas sobre produtos agropecuários dos EUA resultou em perda de participação de mercado que nunca foi totalmente recuperada.

Illinois se destaca como um dos principais fornecedores de milho para o México, sendo o segundo maior estado produtor do cereal nos EUA. Sua posição estratégica é reforçada pelo hub ferroviário de Chicago, que facilita o escoamento da produção para compradores internacionais. De acordo com Collin Watters, diretor de exportação e logística da Illinois Corn Growers Association, cerca de um terço da produção de milho de Illinois é destinada ao mercado externo, enquanto no estado vizinho de Iowa, maior produtor de milho do país, apenas 15% da produção é exportada.

“O acesso ferroviário direto ao México é uma grande vantagem para nós”, explicou Watters. “Por outro lado, há muita incerteza agora”.

Impacto no comércio local e preocupações políticas

Dale Hadden, agricultor de 61 anos, vende sua produção para a Bartlett durante a colheita de outono, época em que o aumento da oferta normalmente pressiona os preços para baixo. Ele destaca que a empresa frequentemente paga valores mais elevados do que outras tradings, pois abastece o México via ferrovia Kansas City Southern.

“Eles sempre têm a melhor oferta”, disse Hadden.

Procurada, a Bartlett preferiu não comentar. Em sua unidade de South Jacksonville, onde vagões estavam enfileirados para carregamento, a movimentação seguia intensa. Segundo informações do site da empresa, a Bartlett é uma das principais exportadoras de grãos dos EUA para o México.

Enquanto isso, a apreensão se estende ao comércio local. Em Jacksonville, a poucos minutos da unidade de armazenamento, moradores acompanham com preocupação os desdobramentos da política tarifária. Empresários temem que as taxas sobre produtos mexicanos e canadenses resultem em aumento de preços para consumidores americanos. Ainda assim, muitos eleitores da cidade permanecem fiéis ao ex-presidente. Na eleição de 2024, Trump obteve 65% dos votos no condado.

“Ele está tentando estratégias pouco convencionais, mas pelo menos não segue o mesmo caminho de sempre”, comentou Sue Fox, 68 anos, apoiadora de Trump e proprietária do Times Square Sewing Complex, em Jacksonville.

Apesar do apoio de parte da população, muitos agricultores temem a repetição de um cenário similar ao da disputa comercial com a China, que levou Trump a conceder bilhões de dólares em subsídios para compensar as perdas no setor agrícola.

“Esse definitivamente não é o caminho que os agricultores querem seguir”, concluiu Dan Newton, 64 anos, gerente de uma fazenda na região.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio

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