Café e Escassez Hídrica: O Avanço da Irrigação na Produção Brasileira

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A severa seca que atingiu o Brasil no último ano comprometeu a produção cafeeira, ressecando plantações e impulsionando os preços globais a patamares recordes. No entanto, produtores como Rodrigo Brondani projetam colheitas promissoras, amparados pelo uso intensivo da irrigação.

Brondani gerencia a Fazenda Joha, localizada no cerrado baiano, uma região que difere do tradicional cultivo em encostas da América Latina. Em sua propriedade de 900 hectares, a irrigação em larga escala assegura produtividade superior, com previsão de até 80 sacas de café por hectare, o dobro da média nacional. Com base nos valores de mercado, a colheita mais recente da fazenda, concluída em outubro, tem estimativa de receita de US$ 17 milhões.

A crescente instabilidade climática, evidenciada por mudanças abruptas nos padrões de chuvas, tem impulsionado a adoção de sistemas de irrigação entre os cafeicultores brasileiros. Historicamente, apenas 30% das lavouras contavam com esse recurso. Contudo, após a seca do último ano, a irrigação tornou-se essencial para garantir a sustentabilidade da produção, apesar dos elevados custos operacionais.

No estado de Minas Gerais, o rebaixamento dos lençóis freáticos dificulta o acesso à água, tornando a irrigação inviável para muitos produtores. Em contrapartida, a região oeste da Bahia, assentada sobre o aquífero Urucuia, apresenta condições mais favoráveis para o cultivo irrigado.

Alta demanda e impacto nos preços

A pressão sobre a produção global de café intensificou-se nos últimos anos. Dados da Organização Internacional do Café apontam que, desde 2021, o consumo mundial tem superado a oferta, resultando em um déficit de 12,5 milhões de sacas nos últimos três anos. Essa escassez contribuiu para um aumento de 25% nos preços do café em 2025, sucedendo um salto de 70% registrado em 2024. Em fevereiro deste ano, os contratos futuros do café arábica atingiram um recorde de US$ 4,40 por libra na Bolsa ICE.

Diante desse cenário, torrefadoras e redes de cafeterias, como Starbucks e Nespresso, repassaram os custos elevados aos consumidores, tornando o café da manhã ainda mais caro.

O desafio da irrigação: investimento e disponibilidade hídrica

A adoção de sistemas de irrigação representa um alto investimento para os produtores. Um pivô central custa cerca de R$ 1,5 milhão, enquanto a irrigação por gotejamento requer aproximadamente R$ 40 mil por hectare. Para viabilizar o acesso à tecnologia, algumas cooperativas, como a Cooxupé, têm estabelecido parcerias com empresas especializadas, permitindo o pagamento parcelado em sacas de café.

Apesar dos avanços, preocupações ambientais emergem. Estudos indicam que o Urucuia perdeu 31 km³ de água entre 2002 e 2021, devido ao uso intensivo para irrigação. Em algumas regiões de Minas Gerais, a perfuração de poços pode chegar a 300 metros de profundidade, tornando a prática economicamente inviável e ambientalmente insustentável.

Pesquisadores e especialistas defendem um maior monitoramento do uso dos recursos hídricos para evitar a superexploração. Enquanto isso, os cafeicultores continuam buscando soluções para equilibrar produtividade e sustentabilidade em um cenário climático cada vez mais imprevisível.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio