Mercado de Açúcar: Hedgepoint Aponta Divergência nas Perspectivas de Curto e Longo Prazo

0
42

O mercado de açúcar continua a enfrentar um cenário de alta volatilidade, impulsionado por questões de disponibilidade e fatores macroeconômicos. A recente valorização do real frente ao dólar, junto a incertezas fiscais no Brasil, segue impactando as decisões de exportação dos produtores brasileiros e, consequentemente, os preços internacionais. Contudo, os preços têm reagido com mais intensidade aos fatores fundamentalistas, revelando tendências distintas para o curto e longo prazo.

No curto prazo, as dinâmicas das safras 24/25 da Índia e do Hemisfério Norte permanecem no radar de investidores e produtores, sustentando os preços. Já para o médio e longo prazo, as previsões de uma safra robusta no Centro-Sul brasileiro em 2025/26, combinadas à recuperação gradual da produção em outras regiões, indicam um possível equilíbrio entre oferta e demanda.

Inflação Global e Seus Efeitos no Mercado de Açúcar

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a inflação global caia de 4,2% para 3,5% em 2025, com uma recuperação mais acelerada nas economias avançadas. Nesse contexto, países como EUA e União Europeia estão mais próximos de atingir suas metas inflacionárias do que economias como Brasil, Índia e China, que possuem estreita relação com o setor de açúcar.

A persistente inflação nos EUA, combinada com a expectativa de um novo governo de Trump, impulsionou o dólar para patamares elevados ao final de 2024. Como o Brasil é o principal fornecedor global de açúcar, a desvalorização do real em relação ao dólar, aliada à deterioração fiscal interna, incentivou os produtores brasileiros a acelerar vendas no final de 2024, gerando uma correção nos preços do adoçante.

A recuperação do real em janeiro limitou novas vendas, especialmente com a moeda brasileira se enfraquecendo abaixo de R$ 6. A recente elevação da taxa Selic pelo Comitê de Política Monetária (Copom), com a possibilidade de novos aumentos em 2025, pode fortalecer a moeda brasileira, gerando um diferencial de juros favorável. Contudo, as questões fiscais não resolvidas ainda representam um obstáculo para uma valorização mais estável da moeda, o que mantém o patamar do real em um cenário de incertezas.

Oferta e Preços: Equilíbrio em Perspectiva?

Após quatro anos consecutivos de déficit, o mercado de açúcar está cada vez mais próximo de um equilíbrio entre oferta e demanda. O Brasil caminha para um nível de maior disponibilidade de açúcar na safra 2025/26, enquanto o Hemisfério Norte ainda enfrenta desafios na safra 24/25. O cenário climático incerto para a safra 2025/26 dependerá dos próximos meses, com o mercado internacional contando com fornecedores com custos mais elevados durante a entressafra brasileira, o que mantém os preços sustentados no curto prazo.

A médio e longo prazo, os preços tendem a ser mais baixistas, especialmente para o açúcar bruto. A expectativa é de que a maior disponibilidade brasileira, com exportações de até 34 milhões de toneladas, possa pressionar os preços para baixo. Adicionalmente, a recuperação das safras do Hemisfério Norte em 2025/26, se confirmada, contribuiria para uma oferta mais equilibrada no mercado.

Projeções para a Safra 2025/26: Expectativa de Alta Produção

A umidade do solo na região Centro-Sul, favorecida pelas boas condições climáticas entre novembro e janeiro, tem se mostrado positiva para o desenvolvimento da cana-de-açúcar. Com um índice NDVI que aponta para uma recuperação da saúde da planta, a estimativa é de uma produção de 630 milhões de toneladas de cana na safra 2025/26, com um mix de açúcar de 51%. Isso implicaria uma produção potencial de 43,3 milhões de toneladas de açúcar.

Desde a pandemia de Covid-19, o etanol tem enfrentado dificuldades para competir com o açúcar, especialmente após as mudanças na política fiscal e o fim da PPI, que impactaram a reação dos preços do biocombustível. Para a safra 24/25, espera-se um crescimento do ciclo Otto de 2,3% para o Centro-Sul e 5,8% para o NNE. Para a safra 25/26, o crescimento é estimado em 2% em ambas as regiões, considerando a alteração da mistura de anidro de 27% para 30% em junho de 2025.

Com maior disponibilidade de matéria-prima e a expansão do etanol de milho, espera-se que os estoques de biocombustível estejam mais equilibrados na próxima safra. Em relação às possíveis tarifas dos EUA sobre o etanol brasileiro, o impacto no mercado americano é projetado como limitado, uma vez que o Brasil tem exportado volumes menores do que importado.

Expectativas para o Mercado Internacional de Açúcar

Na Índia, a precipitação média durante o desenvolvimento da cana sustenta a projeção de uma produção de 30 milhões de toneladas. No entanto, a antecipação do encerramento da safra pode levar a um déficit global, o que impulsionaria os preços. Além disso, a aprovação de uma cota de exportação de 1 milhão de toneladas, com 300 mil já enviadas, pode continuar a impactar o mercado.

Em outras partes do mundo, a Tailândia deve expandir sua área de cana, com boas condições climáticas, resultando em uma produção superior a 11 milhões de toneladas em 2024/25. A Europa deve produzir cerca de 16,5 milhões de toneladas de açúcar, embora o aumento da produção na Ucrânia possa reduzir as importações da região. O México também deve apresentar maior disponibilidade para exportação, enquanto os EUA se beneficiarão de uma maior produção doméstica, reduzindo sua dependência das importações.

A China, maior importadora global de açúcar, tem apresentado bom desempenho, com uma redução nas importações de açúcar de 36% e uma tendência de queda nas compras futuras, à medida que sua produção interna aumenta.

Balanço Global: Tendências Distintas para o Curto e Longo Prazo

O cenário global do mercado de açúcar revela duas tendências bem definidas. No curto prazo, a dependência do Hemisfério Norte, com custos de produção elevados e capacidade limitada, favorece uma tendência altista para os preços. O contrato de março é o mais suscetível a essa alta, especialmente com um início tardio da safra brasileira.

No entanto, no médio e longo prazo, a maior disponibilidade de açúcar no Brasil, somada à recuperação do Hemisfério Norte, poderá pressionar os preços para baixo. Dependendo das condições climáticas durante a safra no Hemisfério Norte, o contrato de outubro de 2025 pode se tornar o mais baixista, refletindo a maior oferta global.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio