A valorização do dólar no quarto trimestre de 2024 — uma alta de 13,45% no período — impulsionou significativamente as receitas de exportação das empresas do agronegócio, contribuindo para resultados mais robustos. Esse movimento ajudou ainda a manter os níveis de endividamento sob controle, mesmo com o impacto cambial sobre o passivo das companhias.
Embora a valorização da moeda norte-americana tenha perdido força em 2025, analistas avaliam que o dólar deve permanecer em torno de R$ 6. Esse patamar é considerado favorável à rentabilidade do setor, principalmente para exportadores de grãos, embora represente um desafio adicional para frigoríficos, que enfrentam aumento nos custos com alimentação animal.
Crescimento das receitas
Levantamento realizado pelo Valor Data revela que, entre outubro e dezembro — correspondente ao quarto trimestre do calendário financeiro e ao terceiro da safra de cana —, 23 das 27 empresas do agro com capital aberto apresentaram crescimento na receita líquida em relação ao mesmo período do ano anterior.
O destaque foi a CerradinhoBio, cuja receita mais que dobrou, alcançando R$ 1,18 bilhão. A trading Agribrasil também registrou expressivo crescimento, com alta de 88,4% e receita de R$ 797,7 milhões.
Endividamento sob controle
No mesmo intervalo, 19 empresas do setor registraram aumento da dívida líquida. No entanto, os índices de alavancagem — medidos pela relação entre dívida líquida e Ebitda ajustado — mostraram pouca variação: em 21 companhias, a oscilação foi inferior a 1 ponto percentual, seja para cima ou para baixo.
A BrasilAgro foi a companhia que apresentou o maior avanço da dívida líquida, com alta de 80,2%, totalizando R$ 832 milhões. Já no caso da Minerva, o aumento de 75,9% na dívida, para R$ 15,6 bilhões, foi impulsionado por aquisições de ativos da Marfrig realizadas no trimestre.
Ainda assim, a alavancagem dessas empresas permaneceu relativamente estável. A BrasilAgro teve alta de apenas 0,28 ponto percentual, enquanto a Minerva registrou avanço de 0,90 ponto. Na contramão, a maior elevação do índice foi registrada pela Raízen, com 1,47 ponto percentual, refletindo os resultados consolidados das áreas de açúcar, renováveis e mobilidade.
“O dólar contribui para fortalecer as receitas em reais, o que torna os balanços mais robustos do ponto de vista da rentabilidade”, avalia Igor Guedes, analista da Genial Investimentos. “O aumento do fluxo de caixa acaba compensando a alta do endividamento bruto. Em alguns casos, até mais do que compensa”, destaca.
Perspectivas para 2025
Até 11 de abril, o dólar acumulava queda de 4,99% em 2025, fechando a R$ 5,87. Para Guedes, o comportamento da moeda ainda é incerto, dado o cenário internacional volátil, mas a tendência é de que o dólar continue em patamar elevado, próximo a R$ 6, em razão dos riscos atrelados à guerra comercial.
Caso essa projeção se confirme, a rentabilidade das empresas exportadoras do agro deve seguir favorecida. Já para os frigoríficos, o impacto positivo pode ser neutralizado por custos mais altos, especialmente com a arroba bovina. Segundo Guedes, a valorização do dólar motivou os frigoríficos a intensificarem os abates no segundo semestre de 2024, impulsionando as exportações e reduzindo a oferta de gado para 2025 — ano já apontado como de virada de ciclo, com escassez de animais para abate.
Georgia Jorge, analista do BB Investimentos, aponta que a reversão no ciclo pecuário tende a pressionar levemente a margem consolidada da JBS. No entanto, as perspectivas para os mercados de aves e suínos seguem positivas.
Impacto limitado, mas promissor
Gabriel Barra, analista de agronegócio, petróleo e gás do Citi Brasil, acredita que os efeitos do câmbio sobre os resultados ainda foram limitados para algumas empresas, mas devem se intensificar nos próximos trimestres. “Exportadoras de grãos como a SLC devem se beneficiar. No setor de açúcar e etanol, o câmbio mais depreciado favorece tanto os preços do açúcar quanto dos combustíveis no mercado interno”, analisa.
Há também expectativa de elevação dos preços dos grãos em reais, impulsionada por uma possível maior demanda da China, em meio à escalada da guerra comercial com os Estados Unidos. A avaliação é de Renata Cabral, analista do Citi para alimentos e bebidas na América Latina. Isso, no entanto, pode pressionar os custos das empresas de proteína animal, como BRF e Seara (JBS), reduzindo suas margens.
Renata ressalta ainda que, diante do enfraquecimento da economia e do avanço da inflação, os consumidores podem migrar da carne bovina para proteínas mais acessíveis, como frango e ovos.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio