No mesmo dia em que o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de tarifas a importações de diversos países, ele reservou uma crítica específica à carne bovina australiana. “Eles não querem nenhuma carne nossa”, afirmou Trump, referindo-se às restrições da Austrália à carne bovina americana, motivadas por preocupações com a doença da vaca louca. Essas limitações estão em vigor há mais de duas décadas, praticamente inviabilizando os embarques dos Estados Unidos para o país.
“Não os culpo. Mas estamos fazendo o mesmo agora, a partir da meia-noite de hoje”, declarou o ex-presidente.
Entretanto, representantes do setor de carne bovina da Austrália demonstraram tranquilidade quanto ao impacto das medidas. A tarifa de 10% imposta pelo governo norte-americano não deve ser suficiente para afetar significativamente as exportações australianas, que atingiram volumes recordes. Segundo fontes do setor, nos seis meses encerrados em fevereiro, as vendas de carne bovina australiana para os EUA somaram, em média, US$ 275 milhões por mês.
Enquanto isso, as tarifas retaliatórias impostas pela China, somadas à decisão de Pequim de não renovar o registro local de centenas de unidades de processamento de carne dos Estados Unidos, representam um risco maior às exportações americanas. Atualmente, as vendas de carne bovina dos EUA à China estão avaliadas em aproximadamente US$ 125 milhões por mês. Esse cenário abre espaço para que Austrália, Brasil, Argentina e Nova Zelândia ampliem sua participação no mercado chinês.
“Não estou tão preocupado com esses 10%”, disse Andrew McDonald, executivo do Bindaree Food Group, que possui plantas de processamento de carne na Austrália e exporta para os Estados Unidos. Ele destacou que a tarifa anunciada por Trump reativou o interesse de compradores americanos, que haviam pausado pedidos enquanto aguardavam os desdobramentos da política comercial. McDonald também afirmou que a demanda chinesa pela carne australiana está em alta. “É um bom resultado para a Austrália”, concluiu.
Demanda elevada e oferta australiana em expansão
As importações americanas de carne bovina permanecem em alta após anos de estiagem terem reduzido o rebanho bovino dos Estados Unidos ao menor patamar desde a década de 1950. A produção interna caiu e os preços subiram, num cenário que deve levar anos para ser revertido.
A Austrália, por outro lado, conseguiu aumentar seu rebanho devido a condições climáticas mais favoráveis, consolidando-se como o principal fornecedor de carne bovina aos EUA. O país oferece preços competitivos e cortes magros, que têm grande demanda no mercado americano.
De acordo com o analista Angus Gidley-Baird, do Rabobank, o preço da carne bovina magra australiana vendida nos EUA estava em torno de US$ 3,12 por libra antes da aplicação da tarifa. Com a nova taxa, o valor subiu para US$ 3,43 — ainda inferior ao preço da carne bovina americana, que gira em torno de US$ 3,80 por libra. Na prática, o impacto seria de apenas 2,5 centavos de dólar sobre o custo de um hambúrguer de um quarto de libra produzido parcialmente com carne australiana.
Além disso, analistas destacam que a recente desvalorização do dólar australiano frente ao dólar americano atenua ainda mais os efeitos da tarifa. Com a moeda mais fraca, os compradores dos Estados Unidos tendem a intensificar as aquisições, e os produtores australianos acabam recebendo mais em moeda local por cada dólar exportado.
Atualmente, Canadá e México são os únicos grandes exportadores de carne bovina isentos das tarifas impostas pelos Estados Unidos. No entanto, segundo o analista do Commonwealth Bank, Dennis Voznesenski, esses países possuem capacidade limitada de ampliar significativamente suas exportações no curto prazo.
Do lado das retaliações, a China é o único grande mercado que respondeu diretamente às tarifas de Trump sobre a carne bovina. O país é o terceiro maior destino para o produto dos EUA, atrás apenas da Coreia do Sul e do Japão, sendo responsável por cerca de 10% do valor das exportações americanas do setor.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio