Um estudo conduzido pelo Programa de Pós-graduação em Ciência Animal e Pastagens da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) investigou a presença de micotoxinas — substâncias tóxicas produzidas por fungos — na alimentação de vacas leiteiras na região Sudeste e analisou se há risco dessas toxinas chegarem ao leite consumido pela população.
A pesquisa envolveu a coleta de amostras de leite e ração em 100 propriedades leiteiras distribuídas por estados do Sudeste. Os materiais foram submetidos a análises laboratoriais que permitiram identificar e quantificar a presença de diferentes micotoxinas.
O trabalho foi realizado pela médica veterinária Aline Moreira Borowsky, sob orientação do professor Carlon Humberto Corassin, e mostrou a presença de aflatoxinas, fumonisinas, desoxivalenol e zearalenona tanto nas dietas dos animais quanto no leite produzido.
Impactos na saúde e produtividade animal
As micotoxinas, produzidas por fungos como Aspergillus e Fusarium, podem causar diversos problemas nos bovinos, incluindo:
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Redução do apetite e do consumo de matéria seca;
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Distúrbios gastrointestinais, como diarreia e cólicas;
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Danos hepáticos e renais;
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Imunossupressão, aumentando a suscetibilidade a doenças;
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Problemas reprodutivos, como infertilidade e abortos.
Esses efeitos comprometem o desempenho produtivo dos animais, resultando em menor ganho de peso e redução na produção de leite. Estudos indicam que vacas alimentadas com dietas contaminadas por aflatoxinas podem produzir até 25% menos leite por dia em comparação com aquelas que consomem rações livres dessas toxinas.
A presença de micotoxinas nas rações pode acarretar prejuízos financeiros significativos. Por exemplo, em confinamentos brasileiros, perdas de R$ 160 a R$ 185 por carcaça foram associadas à contaminação por essas toxinas, devido à redução do ganho de peso dos animais.
Embora os níveis de micotoxinas encontrados no leite geralmente sejam baixos, a presença de aflatoxinas, especialmente a aflatoxina M1, é preocupante devido ao seu potencial carcinogênico. O consumo de alimentos contaminados pode estar relacionado ao câncer de fígado e outras doenças crônicas.
Importância do estudo da Esalq/USP
Diante desses desafios, o estudo conduzido pela Esalq/USP é de grande relevância. Ao mapear a presença de micotoxinas na dieta de vacas leiteiras e avaliar os riscos de transmissão para o leite, a pesquisa fornece dados essenciais para a implementação de estratégias de mitigação da contaminação nos sistemas de produção. Isso contribui para a melhoria da saúde dos rebanhos, a segurança dos alimentos e a sustentabilidade econômica da pecuária leiteira.
A pesquisa reforça a importância do monitoramento da alimentação do gado como ferramenta de prevenção, tanto para proteger os animais quanto para garantir a qualidade do leite. Segundo a pesquisadora, a análise de múltiplas micotoxinas no leite pode servir como uma alternativa viável para detectar precocemente casos de micotoxicoses nos rebanhos.
Os dados obtidos também podem subsidiar a adoção de estratégias para reduzir a contaminação por micotoxinas nos sistemas de produção, contribuindo para a segurança alimentar e para o fortalecimento do setor leiteiro nacional.
O estudo foi financiado por instituições de fomento à pesquisa como a Fapesp, CNPq e Capes, e integrou a iniciativa “Tese Destaque”, uma parceria entre a Comissão de Pós-Graduação e a Divisão de Comunicação da Esalq.
Para os produtores rurais, especialmente os que atuam na pecuária leiteira, a pesquisa serve de alerta e também de orientação: investir em práticas de manejo alimentar mais seguras pode ser decisivo para a saúde dos animais e para a confiança do consumidor no leite que chega à mesa.
Fonte: Pensar Agro