As bolsas globais sofreram fortes perdas nesta segunda-feira, refletindo a ausência de sinais de recuo por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quanto à ampliação de suas políticas tarifárias. A postura inflexível do mandatário acentuou os receios de uma recessão, levando investidores a precificar cortes significativos nas taxas de juros pelo Federal Reserve (Fed), já a partir de maio.
Os contratos futuros indicam agora apostas de quase cinco reduções de 0,25 ponto percentual nas taxas americanas ao longo deste ano, o que pressionou os rendimentos dos títulos do Tesouro para baixo e enfraqueceu o dólar frente a moedas consideradas porto seguro.
A aversão ao risco se acentuou após Trump declarar que os investidores “terão que tomar seus remédios”, reiterando que não fechará acordo comercial com a China enquanto o déficit comercial americano não for corrigido. Em resposta, Pequim afirmou que os mercados refletiram as intenções de retaliação chinesa.
“O único freio real seria o celular do presidente Trump, e ele demonstra pouca preocupação com a liquidação nos mercados, mantendo uma postura política que defende há décadas”, afirmou Sean Callow, analista sênior de câmbio da ITC Markets, em Sydney.
Investidores esperavam que a destruição de trilhões de dólares em valor de mercado e os impactos sobre a economia levassem Trump a rever sua estratégia. Bruce Kasman, economista-chefe do JPMorgan, estima em 60% a probabilidade de recessão, caso as políticas comerciais sejam mantidas. “Seguimos projetando o primeiro corte do Fed em junho, mas agora acreditamos que o Comitê reduzirá os juros em todas as reuniões até janeiro, levando a taxa básica a 3,0%”, afirmou.
Os futuros do índice S&P 500 recuaram quase 5% em meio à volatilidade, enquanto os contratos do Nasdaq recuaram 5,7%, acumulando perdas da ordem de US$ 6 trilhões apenas na última semana. Na Europa, o índice Stoxx 600 caiu 5,3%, e o DAX da Alemanha desabou 9,4%. Ações do setor de defesa recuaram 11,5%, com destaque para a Rheinmetall, que perdeu 21%. O índice bancário europeu recuou 4,8%, acumulando queda de 20% em relação ao último pico de fechamento.
Na Ásia, o índice Hang Seng, de Hong Kong, despencou 12% — sua maior queda diária desde a crise financeira de 2008. Na China continental, o índice CSI 300 caiu mais de 7%, encontrando suporte após notícias de que o fundo soberano Central Huijin estaria comprando ativos. O Nikkei, no Japão, recuou 7,8%, atingindo níveis não vistos desde o fim de 2023. Já o índice da Coreia do Sul perdeu 5%, enquanto o MSCI Ásia-Pacífico registrou queda de 7,8%, sua maior desde 2008. Na Índia, o Nifty 50 teve baixa de 4%.
A perspectiva mais pessimista para o crescimento global também afetou os preços do petróleo, que já vinham em trajetória de queda. O Brent recuou US$ 2,20, cotado a US$ 63,40 o barril, e o petróleo dos EUA caiu US$ 2,75, para US$ 59,23.
Cresce a aposta em cortes de juros pelo Fed
O movimento em direção a ativos mais seguros levou os rendimentos dos títulos do Tesouro de 10 anos a recuarem 9 pontos-base, para 3,90%. Os futuros dos fundos do Fed passaram a embutir uma chance de 54% de que a autoridade monetária promova um corte de 0,25 ponto percentual já em maio — mesmo após o presidente Jerome Powell afirmar, na última sexta-feira, que não há pressa para reduzir os juros.
O dólar registrou queda de 1% frente ao iene japonês, cotado a 145,16, e de 1,45% ante o franco suíço, negociado a 0,8484. O euro subiu 0,5%, chegando a US$ 1,1005, beneficiando-se da fraqueza do dólar, enquanto o dólar australiano, mais exposto ao comércio internacional, recuou 0,5%.
Apesar da expectativa de aceleração inflacionária devido às tarifas — com o índice de preços ao consumidor dos EUA devendo avançar 0,3% em março — os investidores acreditam que a ameaça de recessão terá peso maior nas decisões do Fed.
Empresas devem sofrer pressão nas margens de lucro
O aumento nos custos, impulsionado pelas tarifas, tende a afetar as margens de lucro das empresas, justamente quando a temporada de divulgação de resultados se aproxima. Os grandes bancos abrem os relatórios na próxima sexta-feira, e cerca de 87% das empresas listadas devem reportar seus números entre 11 de abril e 9 de maio.
Segundo analistas do Goldman Sachs, é provável que menos empresas forneçam previsões para o segundo trimestre e para o ano de 2025. “O aumento das tarifas forçará muitas empresas a repassar custos aos consumidores ou aceitar margens menores”, destacaram, prevendo revisões negativas nas projeções de lucros nos próximos trimestres.
Nem mesmo o ouro escapou da onda vendedora, recuando 0,3%, para US$ 3.026 a onça. A correção nos mercados gerou especulações de que investidores estariam realizando lucros em ativos mais líquidos para cobrir perdas e chamadas de margem, o que poderia alimentar uma liquidação autossustentável.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio