A produção de carne bovina na China deverá apresentar, em 2025, a primeira retração em mais de uma década. A estimativa é da consultoria DATAGRO, que projeta queda de 2,6% na oferta interna, reflexo da mais intensa liquidação de rebanho desde 2011. Apesar do recorde de produção registrado em 2024, com 7,8 milhões de toneladas (+3,5% em relação ao ano anterior), o setor enfrenta um cenário desafiador, com oferta de animais limitada e estímulos produtivos substancialmente deprimidos.
Líder global nas importações de carne bovina e terceiro maior produtor mundial, a China iniciou 2025 com recuo nas compras externas da proteína, que somaram 475 mil toneladas no primeiro bimestre — volume 11,3% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado. A redução é atribuída, em parte, ao forte ritmo de importações em 2024, mas também a dificuldades econômicas internas e ao impacto de uma crise estrutural na cadeia produtiva.
Um dos principais fatores que contribuíram para o atual quadro foi a crise no setor leiteiro. O excesso de oferta de leite no mercado chinês, somado ao envelhecimento populacional, pressionou os preços pagos aos produtores, levando à desativação de atividades e à consequente desova de vacas leiteiras. Como resultado, o rebanho bovino do país encolheu 4,4% em 2024, o maior recuo em 13 anos. A produção de leite também caiu 2,8% no período.
Esse movimento gerou forte impacto nos preços internos da carne bovina e do gado, atualmente próximos das mínimas dos últimos seis anos. A relação de troca entre o boi gordo e o milho — insumo fundamental na produção — está 16,5% abaixo da média histórica, o que desestimula investimentos e amplia a retração da atividade.
Apesar da desaceleração nas compras externas no início de 2025, a China continua dependente de importações para suprir sua demanda interna. A redução dos estoques de animais e o esgotamento da capacidade de expansão produtiva doméstica abrem espaço para uma possível retomada das importações na segunda metade do ano, especialmente caso se confirme a sinalização de recuperação da demanda interna por parte do governo chinês.
No segmento de carne suína, a produção já apresentou queda em 2024, e as importações voltaram a crescer neste início de ano. Segundo a DATAGRO, esse movimento pode indicar uma mudança estratégica por parte da China, com maior foco em compras externas como forma de equilibrar o mercado interno e evitar novas crises de superoferta, como a ocorrida em 2023.
Caso essa tendência se consolide, o impacto nas importações de carne bovina tende a ser ainda mais expressivo, uma vez que cerca de 33% do consumo chinês da proteína depende do fornecimento externo, ante uma dependência significativamente menor no caso da carne suína (entre 3% e 5%).
Mesmo com o início do ano marcado por retração nas compras, o cenário traçado pela DATAGRO aponta para um possível aumento da demanda chinesa por carne bovina importada nos próximos meses — impulsionado pela queda na produção doméstica, pelos baixos preços internos e pelas condições desfavoráveis ao produtor.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio