Produtoras pioneiras recebem certificação da Rede ILPF em Dia de Campo em Ipameri

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Duas propriedades rurais de Ipameri (GO) foram as primeiras do país a receber o Certificado de Propriedade Certificada Padrão de Verificação da Rede ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta). As fazendas Santa Brígida, de Marize Porto, e Palmeiras, de Sônia Bonato, conquistaram o reconhecimento durante a 15ª edição do tradicional Dia de Campo, realizado no último dia 27, na Fazenda Santa Brígida.

A certificação comprova que ambas as propriedades atendem aos critérios técnicos, ambientais, trabalhistas e legais estabelecidos pela Rede ILPF, com verificação realizada por auditoria independente. O reconhecimento valoriza práticas sustentáveis de produção que conciliam rentabilidade e conservação ambiental.

Duas trajetórias, uma certificação

A trajetória da produtora Sônia Bonato começou em 2006, quando participou de seu primeiro Dia de Campo na Fazenda Santa Brígida e se interessou pelo sistema ILPF. Mesmo enfrentando resistência inicial do marido, ela iniciou a integração em pequena escala: “Começamos com três hectares de milho, e fomos aumentando aos poucos”, relembra. Atualmente, a propriedade cultiva soja certificada para exportação, produz silagem de milho para o inverno e cria bovinos.

Sônia destaca que a certificação trouxe orgulho e valorização: “Recebemos bonificação pela soja certificada, e hoje temos três fontes de renda que foram contempladas na certificação: bem-estar animal, produção responsável, preservação ambiental e proteção de nascentes”.

Já a produtora Marize Porto transformou completamente a realidade da Fazenda Santa Brígida, que há menos de duas décadas apresentava pastagens degradadas e baixa produtividade. Com a implantação do sistema ILPF, a propriedade passou a integrar grãos, pecuária de corte e floresta plantada com eucaliptos. Hoje, é referência nacional e Unidade de Referência Tecnológica da Embrapa há 17 anos.

Tecnologias em campo: da teoria à prática

Durante o evento, mais de 200 participantes, entre produtores, consultores, professores e técnicos, acompanharam a apresentação de três temas centrais:

  • Sistema boi safrinha e evolução da Integração Lavoura-Pecuária (ILP) na Fazenda Santa Brígida
  • Desempenho animal em pastejo rotacionado
  • Produção de bovinos em sistemas de ILPF

O pesquisador da Embrapa, Lourival Vilela, explicou o sistema boi safrinha, que consiste no consórcio de milho com braquiária para manter a produção de carne durante a seca. Em um experimento realizado pela Embrapa Cerrados, em Planaltina (DF), novilhas chegaram a ganhar 900 gramas de peso por dia, durante 55 dias, em pasto de braquiária brizantha, cultivar BRS Piatã. Já na Feira Comigo (GO), em parceria com o Instituto Federal de Rio Verde, os ganhos incluíram até 1,2 mil quilos de soja na palhada de milho, resultado atribuído à presença da braquiária.

O consultor Roberto Freitas, que acompanhou o desenvolvimento da Santa Brígida desde 2006, destacou a diversidade de cultivos como fator decisivo no sucesso da propriedade. “Hoje, com o milho no verão, conseguimos obter até cinco sacas a mais de soja, além da redução no custo de produção”, afirmou.

Resultados econômicos e ambientais

Outro destaque foi a apresentação do consultor William Marchió, que relatou a experiência de uma propriedade que, mesmo colhendo 78 sacas de soja por hectare, optou por migrar para um sistema com pastejo rotacionado. O resultado foi surpreendente: o retorno financeiro saltou de R$ 7 mil para R$ 10 mil por hectare. “Neste ano, conseguimos produzir 53 arrobas por hectare. O boi entregou mais valor à fazenda do que os demais sistemas”, afirmou.

Segundo ele, o gado atua como um importante ciclista de nutrientes, melhorando a estrutura do solo e aumentando a matéria orgânica, o que, por sua vez, potencializa a retenção de água no solo: “Cada 1% a mais de matéria orgânica significa reter 180 mil litros de água por hectare”.

Marize Porto complementa com um exemplo prático da intensificação sustentável: “Tínhamos 800 bois em 800 hectares. Fizemos a transição para um pasto rotacionado de apenas 80 hectares e obtivemos excelentes resultados. A adaptação foi tranquila, e conseguimos implantar uma pecuária intensiva e sustentável”.

Árvores e pecuária: desafios e soluções

Os pesquisadores Roberto Guimarães e Karina Pulronik abordaram os desafios da inserção de árvores em sistemas integrados. Eles alertam para os efeitos do sombreamento excessivo: áreas com mais de 200 árvores por hectare podem sofrer perdas significativas de forragem.

Segundo Guimarães, cada 1% de redução na radiação solar resulta em perda média de 40 quilos de forragem seca. A solução encontrada pela Embrapa Cerrados inclui o limite de até 100 árvores por hectare, espaçamento entre renques superior a 28 metros e plantio no sentido leste-oeste, medidas que favorecem o ganho de peso animal.

Além disso, a sombra pode trazer benefícios para a produção de leite, como melhora na qualidade dos embriões, aumento do peso dos bezerros ao nascer e redução do consumo de água em até 28%. Os sistemas ILPF também apresentam alto potencial de sequestro de carbono, o que pode agregar valor aos produtos pela neutralidade de emissões.

Impacto regional e projeções

O chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, destacou o caráter transformador do Dia de Campo: “É um evento tradicional onde mostramos práticas que foram testadas em pesquisa e que hoje estão consolidadas no campo. Isso fortalece o efeito multiplicador”.

Neste ano, segundo Pedro, a Santa Brígida começou a colher o eucalipto, cultivado como uma poupança verde ao longo dos anos. Já Francisco Matturro, presidente-executivo da Rede ILPF, reforçou a importância da união entre pesquisa e iniciativa privada: “Hoje são cerca de 18 milhões de hectares com sistemas integrados, gerando emprego, renda e transformando a agricultura brasileira”.

Para o jornalista especializado em agronegócio, Frederico Olívio, a integração dos sistemas representa a principal ferramenta para uma produção rural mais sustentável e socialmente responsável. E, conforme destaca William Marchió, a tecnologia implantada na Fazenda Santa Brígida impulsionou o desenvolvimento da região: “Hoje, há produtores que, mesmo sem adotar pecuária, já utilizam braquiária para cobertura do solo. Aos poucos, vão compreendendo que podem evoluir e gerar ainda mais valor. Isso é transformação real no campo”.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio