Rotação de culturas: experimento pioneiro completa 40 anos no Paraná

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Pesquisas de quatro décadas mostram como a diversificação de culturas contribui para a produtividade, saúde do solo e rentabilidade

Iniciado em 11 de abril de 1985, o experimento de rotação de culturas da Fazenda Experimental de Campo Mourão, no Paraná, completa 40 anos nesta safra, sendo considerado o ensaio contínuo mais duradouro do Brasil. Desde sua implantação, o Departamento Técnico da Coamo e pesquisadores da Embrapa Soja acompanham, em parceria, os efeitos da prática sobre a produtividade agrícola, as condições físicas, químicas e biológicas do solo e a lucratividade das lavouras.

O engenheiro agrônomo Roberto Bueno Silva, da Coamo em Campo Mourão, destaca que a continuidade e a abrangência dos dados obtidos não seriam possíveis no contexto das propriedades individuais. “Trata-se de uma pesquisa de longo prazo, que demanda investimentos contínuos. Ensaios como o de rotação de culturas precisam ser conduzidos por períodos extensos para que se possa avaliar de forma confiável as diferenças entre os sistemas produtivos”, afirma.

Ele observa que a região de atuação da cooperativa apresenta ampla variação de clima e tipo de solo. “Em áreas mais quentes e baixas, como Campo Mourão, Vale do Ivaí, Oeste do Paraná e Mato Grosso do Sul, predomina a sucessão soja-milho safrinha. Já nas regiões mais altas e frias, o trigo ganha espaço na sucessão com a soja. Ambos são sistemas produtivos eficientes, mas, ao longo do tempo, sem a devida rotação, surgem desafios técnicos e econômicos”, alerta.

A pesquisa foi implantada em um momento em que o sistema de plantio direto ainda era incipiente. “Na época, enfrentávamos diversos problemas e a rotação de culturas surgia como uma alternativa promissora. Embora os benefícios da prática já fossem reconhecidos, sua adoção ainda é limitada”, lamenta Bueno. Ele explica que muitos produtores acreditam que cultivar grãos de forma contínua gera maior rentabilidade. “Entretanto, nossos dados revelam que a diversificação pode ser ainda mais vantajosa. Em regiões mais quentes, por exemplo, substituir 30% da área de milho safrinha por braquiária ruziziensis resulta em maior retorno econômico. Resultados semelhantes são observados nas regiões frias. A expectativa é de que os cooperados aprimorem seus sistemas produtivos a partir das informações compartilhadas durante o encontro de verão”, conclui.

Sistema de plantio direto era novidade em 1985

O pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi, relembra que o cenário da produção agrícola no Paraná em 1985 era muito diferente do atual. “O preparo convencional do solo predominava, o que provocava grandes perdas por erosão. O plantio direto ainda era recente, com menos de 200 mil hectares no Estado, o que correspondia a menos de 5% da área cultivada”, afirma.

A expansão do sistema era urgente, mas enfrentava obstáculos tecnológicos como a escassez de máquinas adequadas, dificuldades no manejo de plantas daninhas e a predominância da sucessão entre soja e trigo. “Foi nesse contexto que o ensaio de rotação de culturas foi iniciado, com a participação da Embrapa desde o começo. Sou a terceira geração de pesquisadores envolvidos nesse estudo”, destaca Debiasi.

Durante o encontro técnico com cooperados, foram apresentados 12 tratamentos distintos, baseados em diferentes sistemas de rotação. “As variações ocorrem conforme há ou não rotação no verão — entre soja e milho — e no outono-inverno, com trigo, milho segunda safra e plantas de cobertura”, explica. Cada sistema segue um ciclo de quatro anos e é comparado à tradicional sucessão soja-trigo. “Temos áreas em que cultivamos soja no verão e trigo no inverno há 40 anos, o que nos permite analisar a evolução do solo em múltiplas dimensões”, acrescenta.

Resultados de longo prazo confirmam os benefícios da rotação

De acordo com Debiasi, os benefícios da rotação de culturas tornam-se visíveis principalmente a médio e longo prazo. “Foram necessários mais de 15 anos de avaliação para identificar diferenças consistentes de produtividade entre os sistemas. Todas as culturas apresentaram melhor desempenho em sistemas rotacionados, com ganhos entre 5% e 20%, dependendo da espécie. O trigo foi a cultura mais responsiva, seguido por milho verão, milho segunda safra e soja, esta última com respostas mais discretas, porém relevantes.”

Além do aumento da produtividade, o pesquisador ressalta os ganhos expressivos na qualidade do solo. “A rotação melhora todas as propriedades do solo, especialmente as físicas. Após 40 anos de plantio direto, mesmo sem revolver o solo, não identificamos problemas de compactação — mesmo em solos com mais de 75% de argila. O perfil químico também permanece adequado, com correções feitas por calagem em superfície. Do ponto de vista biológico, houve aumento de até 40% na atividade do solo, o que contribuiu para a redução de prejuízos causados por nematoides e fungos.”

Importância estratégica da pesquisa de longo prazo

Para Alexandre Lima Nepomuceno, chefe-geral da Embrapa Soja, a longevidade do experimento é essencial para sua relevância científica. “Somente com dados acumulados ao longo de décadas é possível compreender plenamente os efeitos da rotação de culturas e o comportamento dos sistemas agrícolas em diferentes condições. Esses resultados reforçam a importância de investir e manter estudos de longo prazo como esse”, conclui.

Fonte: Portal do Agronegócio

Fonte: Portal do Agronegócio