A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) divulgou uma nota técnica alertando para os impactos das novas tarifas de importação imposta pelos Estados Unidos aos produtos do agronegócio brasileiro.
A medida, determinada por ordem executiva do presidente norte-americano Donald Trump, entrou em vigor nesta sábado (05.04) veja mais aqui e causou um verdadeiro terremoto mundial na economia.
Segundo a CNA, o “tarifaço” pode comprometer a competitividade do Brasil em um dos seus principais mercados. Em 2024, os Estados Unidos foram o terceiro maior destino das exportações do agro nacional, movimentando US$ 12,1 bilhões — o equivalente a 7,4% de tudo o que foi exportado pelo setor no ano passado. “Essa tarifa adicional pode colocar em risco boa parte dessa fatia, afetando diretamente os produtores brasileiros”, destaca a nota.
Entre os produtos que podem ser mais prejudicados estão o café verde, sucos de laranja, carne bovina e etanol. O suco de laranja, por exemplo, é um dos produtos com maior dependência do mercado norte-americano: 90% das importações dos EUA desse item vêm do Brasil.
Com o aumento da tarifa de importação de 5,9% para 15,9%, a CNA estima que as exportações brasileiras de suco de laranja aos EUA possam cair de 1 bilhão para apenas 261 milhões de litros — uma perda de 743 milhões de litros, praticamente três quartos do volume atual.
Outro produto com forte impacto projetado é o etanol. A alíquota sobre o biocombustível subirá de 2,5% para 12,5%, e, com isso, o volume exportado do Brasil para os EUA pode encolher em 41 milhões de litros.
No caso da carne bovina congelada, as exportações devem cair de 20 mil toneladas (em 2023) para 3 mil toneladas, caso se confirmem os efeitos da nova tarifa, que subirá de 26,4% para 36,4%.
Até o açúcar, que vinha ganhando espaço nos EUA, deve ser atingido. A CNA calcula queda de 28 mil toneladas nas exportações, caindo de 73 mil para 45 mil toneladas com a nova tarifa de 43% (antes, 33%).
A CNA classificou o grau de exposição de vários produtos brasileiros à nova tarifa. Os considerados com exposição crítica são aqueles cuja exportação está praticamente concentrada nos Estados Unidos e que não têm outro mercado alternativo com capacidade de absorção. Nessa categoria estão:
- Sebo bovino (87,7% das exportações vão para os EUA)
- Obras de marcenaria e carpintaria (85,7%)
- Madeira perfilada (75%)
- Carne bovina industrializada (58,3%)
Esses setores terão dificuldade quase total de desvio de mercado, segundo a CNA.
Outros produtos como óleo essencial de laranja, calçados de couro, móveis de madeira, café solúvel, celulose e papel estão na categoria de alta exposição, com forte dependência do mercado americano, embora com alguma margem de redirecionamento para outros países.
O mercado americano sempre foi um destino importante para o agro brasileiro. Nos últimos 10 anos, a participação dos EUA nas exportações do setor oscilou entre 6% e 7,5%, o que mostra uma relação comercial sólida e previsível. O novo pacote de tarifas, no entanto, rompe esse equilíbrio.
A alíquota média que era aplicada sobre produtos agropecuários brasileiros era de 3,9%. Com o tarifaço de 10 pontos percentuais, esse custo saltará para 13,9%, tornando os produtos brasileiros menos competitivos frente a concorrentes como México, Argentina ou até produtores internos dos EUA.
Mesmo com essa nova tarifa sendo considerada “base” — já que países como China e União Europeia foram atingidos com sobretaxas de até 34% e 20% — o impacto será significativo por atingir setores com forte presença no mercado americano.

Isan Rezende, presidente do IA
A CNA alerta que os efeitos dessa medida podem ser sentidos rapidamente no campo, com reflexos nos preços pagos ao produtor e no escoamento da produção. Por isso, recomenda que o setor esteja atento às movimentações do mercado internacional e avalie alternativas de redirecionamento comercial, quando possível. A entidade também sinalizou que acompanhará a situação de perto e continuará atuando para defender os interesses do agro brasileiro nas negociações comerciais internacionais.
O presidente do Instituto do Agronegócio (IA), Isan Rezende, classificou a situação exposta pela confederação como “extremamente preocupante”. “Estamos falando de mercados onde o Brasil é líder absoluto, como no caso do suco de laranja e do etanol, e que agora correm sério risco de encolhimento imediato. Quando se coloca uma tarifa de 10% sobre produtos com margens já apertadas, a exportação se torna inviável. Isso afeta diretamente o produtor rural, que é o elo mais frágil dessa cadeia”.
“A nota mostra com clareza que não há espaço de manobra para muitos desses produtos. Alguns setores, como o de carne industrializada e derivados de madeira, têm mais de 70% da exportação concentrada nos EUA. Ou seja, não se trata apenas de perder mercado — trata-se de não ter para onde mandar essa produção. O impacto pode ser sentido ainda neste semestre, com redução de pedidos, queda de preços e escoamento represado”, pontuou Rezende.
“O Brasil precisa reagir com inteligência. O diálogo diplomático tem que continuar, mas também temos que acelerar acordos com outros países e regiões para abrir novos mercados. Não é retaliação por retaliação, mas sim defesa legítima dos nossos interesses, para que o produtor rural não pague sozinho a conta de uma disputa comercial global”, defendeu o presidente do IA.
Fonte: Pensar Agro